NOSSA GENTE NEGRA

 Agradecendo a Carlos Carvalho CavalheiroAdilene Cavalheiro por cederem uma copia do seu livro "NOSSA GENTE NEGRA" para que pudéssemos deixar gravado  para que outras pessoas possam ler ou consultar .

Desde já segue o nosso muito obrigado ao autor Carlos Carvalho Cavalheiro por essa gentileza !

NOSSA GENTE NEGRA
Apresentação
A primeira impressão que o leitor poderá ter desse livro é a conclusão de que faltou alguém nesta coleção de biografias de personalidades negras de Sorocaba. Sem qualquer pudor confirmo a primeira impressão do leitor, acrescentando que não foi uma única pessoa que deixou de figurar aqui. Foram várias e, ainda mais, de propósito.
Sim, foi proposital. Este é um livro inacabado, eternamente inacabado. Explico melhor. A intenção desta obra é valorizar, dentro do espírito da Lei 11645/08 (antiga 10639/03), as personalidades negras que construíram a história de Sorocaba. Não com o intuito de dividir a cidade – e a sua História e Memória – em “negros” e “não-negros”; ou a história de um e de outro. A intenção não é esta, mas simplesmente fornecer informações até então pouco divulgadas da presença do negro na História de Sorocaba. Daí a dificuldade de se realizar tal tarefa: são muitos os exemplos positivos de vidas nas mais variadas áreas e tempos e, fatalmente, por uma questão de limite – imposição até do Criador para conosco, suas criaturas – não há como dar conta de todas as biografias. O que fazer, então? Assumir a limitação de um modesto pesquisador, mas abrir as portas para outra possibilidade: este livro é inacabado, mas poderá – tenho fé o será – construído e reconstruído ao longo dos anos por outras mãos hábeis.
Por isso as biografias aqui são de pessoas falecidas, como forma de estabelecer parâmetros na escolha das biografias que aqui constam. As duas únicas exceções são a do senhor José Marciano e da senhora Ondina Seabra, que se justificam dada a importância da participação de ambos, já octogenários, na nossa História.
Mas vai além de apenas ser um livro; ou um livro a mais. É uma proposta. Que surjam tantos outros quantos necessários, enaltecendo a participação dos negros, mas, também, dos índios, dos asiáticos, dos europeus, enfim, de qualquer etnia, procedência ou nacionalidade que tenha participado da construção desta nossa cidade de Sorocaba.
Carlos Carvalho Cavalheiro
23 de fevereiro de 2012.
José Marciano – Este é uma das exceções deste livro que procura registrar traços biográficos gerais de personalidades negras já falecidas que tiveram alguma relação com Sorocaba. José Marciano, felizmente, ainda vive e quem o encontra nas imediações da sua residência na rua Rosália Speers, no centro de Sorocaba, se encanta com seu carisma, simpatia e disposição aos 84 anos de vida.
José Marciano nasceu em 19 de fevereiro de 1927 em Sorocaba, na rua Voluntário Menaldo, Altos da Vila Leão. Seus pais eram Miguel Marciano (nascido em 29 de setembro de 1896 e falecido em 07 de agosto de 1956) e Geraldina Mendes de Paula (nascida em 05 de setembro de 1900 e falecida em 15 de maio de 1944), ambos originários de Sorocaba. Apesar de José Marciano ter nascido na região da Vila Leão (nos “Altos da Vila Leão”, como costuma dizer brincando), foi criado pela avó paterna, Ambrosina Maria Tereza, no centro da cidade, pois seus pais eram operários da Fábrica do Fonseca (N. S. da Ponte) e não tinham com quem deixá-lo durante a jornada de trabalho.
José Marciano começou trabalhando na Fábrica de Explosivos Vera Cruz (defronte onde hoje está o Campus Raposo da Uniso). Em agosto de 1945 tornou-se ferroviário, aposentando-se na FEPASA em julho de 1976. Fez parte da diretoria do Clube “28 de Setembro”, na década de 1950, quando foi inaugurada a sede na rua Machado de Assis. Antes, no entanto, participou do mesmo clube quando este ainda não tinha sede própria, funcionando no “Sorocabinha” (Largo do Líder) e, posteriormente, por volta de 1950, na esquina da rua Miranda Azevedo com Manoel José da Fonseca. Segundo José Carlos dos Santos (conhecido por “Santão”), em 28 de setembro de 1945 foi fundada a “Sociedade Recreativa 28 de Setembro” (com sede no prédio da esquina das ruas Antonio Alvarenga e Miranda Azevedo, centro de Sorocaba). Em 18 de fevereiro de 1948 a sociedade mudou sua denominação para “Sociedade Beneficente e Cultural Recreativa 28 de Setembro”. Em 21 de fevereiro de 1951, tomou posse a nova diretoria, tendo como presidente o senhor Luiz Leopoldino Mascarenhas (conhecido como Luiz Pequeno) e o senhor José Marciano como orador.
José Marciano é bisneto de Marciano Luiz Mascarenhas (escravo nascido em Sorocaba - SP), neto de José Marciano e de Ambrosina Maria Tereza (avós paternos) e de Francisco Evangelista de Paula e Francisca Maria Mendes (avôs maternos). Francisco Evangelista era tropeiro, conforme certidão de casamento de 16 de fevereiro de 1895, registrada no Cartório do 1º Subdistrito de Sorocaba.
José Marciano é maçom (desde 25 de novembro de 1968) da Loja União Sorocabana Independente.
Palavras-chaves: Sociedade Beneficente e Cultural Recreativa 28 de Setembro; Escravidão; Ferroviário; Maçonaria.
Generoso – Foi escravo do tenente coronel Fernando de Sousa Freire, vice-presidente da Câmara Municipal e o mais abastado cidadão de Sorocaba. Generoso entrou para a História ao assassinar o seu senhor. Embora o assassinato não deva servir como exemplo de conduta ideal, no entanto, escancara, por sua vez, a radicalização das relações escravistas na cidade de Sorocaba, enterrando de vez a teoria da escravidão mansa e mitigada, sem crueldade. Generoso talvez pudesse ser entendido dentro daquilo que Paulo Freire chamou de justa raiva. A não aceitação da injustiça do sistema escravocrata levou-o a cometer o desatino de assassinar aquele que representava a usurpação de sua liberdade e dignidade humanas.
Será que é certo esse pensar? Acredito que o leitor deva julgar por si mesmo por meio dos fatos. Cada qual julgue como melhor lhe aprouver. O que não se pode negar é a intrepidez, a ousadia e a rebeldia à instituição escravista que acompanharam e formaram o caráter de Generoso. Um exemplo de negro que não aceitou a escravidão e lutou para viver em liberdade.
Era dia 28 de abril de 1875. O tenente coronel Sousa Freire, em frente a soleira do seu palacete, dialogava com diversas pessoas. De repente, o grupo percebe a presença de alguém, que da rua assiste ao colóquio. É um negro, com chapéu de abas largas e poncho. Mantém-se estacado, em frente à roda dos conversadores. Era quase noite, dezoito horas e meia. A luz do sol enfraquecia consideravelmente. No entanto, Sousa Freire arregalou os olhos ao reconhecer aquela figura. Não deu tempo de dizer nada: o negro puxou de um bacamarte que estava oculto sob o poncho e disparou à queima roupa. A vítima só teve tempo de dizer: “ – Eu morro... minha mulher... meus filhos... É o meu escravo Generoso!”.
Os amigos do tenente coronel, aturdidos e assustados, não sabiam o que fazer. Acudiriam o amigo ou prenderiam o escravo? Diante dessa hesitação, Generoso aproveitou para fugir.
Mesmo perseguido, numa fuga espetacular, Generoso conseguiu escapar das mãos dos seus perseguidores. O jornal Ypanema descreveu assim a fuga:
“Generozo, o assassino, era escravo do finado, e achava-se foragido há 15 mezes: na antevéspera, sendo encontrado pelo capataz de tropas do commendador Vergueiro, sentado juncto á encruzilhada, conhecida por Cruz de Ferro[1], armado de bacamarte e faca, foi por ordem do seu senhor espreitado por alguns escravos e dizendo estes que elle entrara em casa de Bárbara de tal, no bairro da – Terra Vermelha – o tenente coronel obteve um mandado de prisão contra elle, sendo que a escolta já o não encontrou ali.
É de admirar o sangue frio do malvado assassino: aproveitando a sombra da noite, foi pelo lado da rua Direita[2], e á queima-roupa desfechou o tiro que deu em resultado a morte de um respeitável cidadão e estremecido chefe de família. Depois de ter desparado o tiro, houve um verdadeiro pânico, que fez com que as pessoas que ali estavam não perseguissem o malvado: mais adeante, porém, elle que retirava-se em meia carreira, foi perseguido por dous escravos do finado e dous moços que pela luz que projectava o lampeão do Hotel das Flores reconheceram ser o escravo Generoso: vendo-se este perseguido, parou na Travessa do Bom Jezus, e abrindo o ponche com que estava, voltou-se de frente para os que o seguiam, e observando que estes também pararam, desparou em vertiginosa carreira, gritando tambem: – péga, péga – conseguindo escapar por um dos beccos da rua do Hospital, que conduzem ao brejo do Supiriry.
A polícia bateu as mattas circumvisinhas á cidade, voltando ao amanhecer sem conseguir captural-o”.[3]
O jornal Gazeta Commercial também noticiou o fato, mas não com tantos detalhes sobre a escapada de Generoso como o fez o Ypanema, limitando-se apenas a informar que “o delegado em exercício tem sido incansável nas diligencias para a captura do assassino, mas até o presente baldados tem sido todos os esforços”.[4]
É, realmente, interessante perceber que Generoso poderia ter fugido do local onde se encontrava homiziado, mas preferiu arriscar a ser preso, vindo a Sorocaba e em pleno centro da cidade liquidar a vida do coronel Sousa Freire.
Vários escravos foram detidos como suspeitos de ser o Generoso. No entanto, este mesmo nunca chegou a ser capturado.
Palavras-chaves: Escravidão, Assassinato, Fuga, Valentia.
Preto Pio – Pouco se sabe sobre esse extraordinário personagem a não ser a sua participação como líder da fuga de escravos que ficou conhecida como Êxodo do Capivari ou Retirada do Capivari, uma fuga em massa ocorrida em outubro de 1887.
A princípio, o nome do Preto Pio estaria em desacordo com os propósitos deste livro, pois não se trata de um negro sorocabano. Entretanto, o fato da marcha de fuga dos escravizados de Capivari passar por Sorocaba e, sobretudo, pelas conseqüências desse episódio para a história regional, autorizam a inclusão do nome de Preto Pio neste rol.
Em outubro de 1887, com a participação de caifazes (grupo de abolicionistas de São Paulo), centenas de escravos da cidade de Capivari foram soltos das senzalas. Um dos livros que conta, ainda que de forma romanceada, esse episódio é o que tem por título A Marcha, escrito por Afonso Schmidt. A Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volumes 36 – 37, à página 224, informa que “Dos arredores de Capivari, saíra, em fuga, denso grupo de cativos. Entre homens válidos, velhos e crianças, cento e tantos, capitaneados pelo preto Pio. Caminhavam para a cidade de Porto Feliz”.[5]
A caravana de fugitivos da escravidão passou por Porto Feliz (onde tiveram uma escaramuça com a polícia local), depois, para Itu, Sorocaba e logo em seguida, rumo à capital paulista. Lá chegando, foram recepcionados, segundo Schmidt, pelos caifazes que os orientaram a seguir rumo ao Quilombo do Jabaquara, no litoral paulista.
Há controvérsias sobre o local em que a caravana encontrou a força de cavalaria disposta no caminho para o Quilombo. Alguns autores dizem que os escravizados já estavam na Serra do Cubatão, nas proximidades do Quilombo. O jornal A Província de São Paulo, di dia 20 de outubro de 1887, porém, noticia que “Os escravos de Capivari [...] foram alcançados ontem próximos a S. Amaro pela força de cavalaria que desta Capital partiu ante-hontem ao seu encontro. Houve renhido conflito, morrendo um soldado e um escravo”.
O fato é que o alferes Gasparino Carneiro Leão, pelo que consta teria sentimentos abolicionistas, destacou um anspeçada para parlamentar com os escravos fugitivos, solicitando a eles que se dirigissem para outro rumo com o fim de desincompatibilizar os soldados da obrigação de prendê-los. No entanto, os escravos assustaram-se ao ver aquele militar se aproximando a cavalo. Preto Pio, que se achava como líder natural daquele grupo, avançou. O anspeçada desceu do cavalo e continuou a aproximar-se à pé. Preto Pio, então, gritou para que ele parasse ali mesmo.
No entanto, as ordens do anspeçada eram de parlamentar com os negros. Foi o que tentou fazer. Preto Pio pediu mais algumas vezes para que o outro não se aproximasse.
De novo Preto Pio avisou
Pediu ao soldado para parar
O furriel disse qualquer coisa
Que não deu para Pio escutar
A tensão de ambos era tanta
Que fazia a terra balançar[6]
O fim foi trágico: como o militar não obedeceu ao pedido do Preto Pio, este puxou de sua foice e num golpe matou o furriel. Na sequência, os soldados fuzilaram o escravizado. Morreu Preto Pio como mártir da liberdade no caminho para o Quilombo do Jabaquara.
Dizem os cronistas que seu corpo foi levado para São Paulo e num exame de autópsia foi descoberto que Preto Pio não se alimentava há três dias. O gigante que lutou contra a escravidão, que não aceitou mais ser escravo, padecia de fome quando foi morto.
Em conseqüência da luta de Preto Pio e dos escravos de Capivari, os rumos da escravidão no Brasil mudaram. Os militares recusaram-se, a partir daquele momento, e em decorrência da trágica morte do militar e do Pio, de perseguir escravos fugitivos. Em Sorocaba, dois meses depois da fuga, em dezembro de 1887, ocorreu a abolição antecipada. Em Porto Feliz, em novembro daquele ano, chegaram trabalhadores belgas, para substituir a escravidão pelo trabalho livre. Novas fugas em Capivari ocorreram logo depois daquela liderada pelo Preto Pio. Em maio de 1888, sem mais fôlego para continuar existindo, a escravidão foi abolida no Brasil. Obra das lutas, resistências e fugas de escravizados que desgastaram o sistema escravista. Obra, portanto, também, daquele líder negro: Preto Pio.
Palavras-Chaves: Escravidão, fuga em massa, Êxodo de Capivari, Retiradas, Abolição.
Nhá Quitéria – Seu verdadeiro nome era, segundo pesquisa de Aparecido Modesto de Oliveira, Josefa Lopes. Essa é uma das personagens mais fascinantes da história de Sorocaba. Há muitos relatos orais sobre ela, algumas informações desencontradas, mas o fato é que Nhá Quitéria marcou, com o seu estilo, muitas gerações. O afeto que despertava nos sorocabanos era tal que Nhá Quitéria se tornou nome de rua, na Vila Barão (Lei 412 de 27 de outubro de 1955). Era uma negra de austera fisionomia. Diziam que morreu com mais de cem anos. No aniversário do 3º Centenário de Sorocaba (1954), foi publicada uma matéria em jornal no qual ela afirmava ter conhecido pessoalmente o Brigadeiro Tobias. Ora, o Brigadeiro havia falecido em 1857, ou seja, 97 anos depois do relato de Nhá Quitéria. Em sendo verdade o seu depoimento, Nhá Quitéria realmente teria mais de cem anos de idade.
Foi ama de leite de muitas crianças brancas. Ex-escrava, Nhá Quitéria não se intimidava com trabalhos rudes e pesados. Diziam que montava animais com maestria e que domava burros xucros, mesmo depois de ter completado seus 80 anos de idade.
A professora sorocabana Maria Helena Cruz Costa vem realizando pesquisas em torno da vida de Nhá Quitéria. Por meio de entrevistas com pessoas que conheceram ou conviveram com ela, procura reconstruir a biografia dessa valente negra que viveu em Sorocaba. Segundo os relatos colhidos pela professora Maria Helena, Nhá Quitéria era uma negra valente, que costumava andar descalça, apesar de usar esporas. Era contratada pelos compradores de mula que pediam que ela montasse o animal antes de fechar a compra. Nhá Quitéria experimentava o animal e informava se era uma boa compra ou não. Segundo Benedito Aleixo, em seus versos em homenagem a Nhá Quitéria, esta andava de calça comprida por cima do vestido e costumava carregar consigo uma navalha.
A professora Maria Helena apurou ainda que Nhá Quitéria residia na rua Santa Catarina, travessa da avenida General Carneiro (altura do número 474). Foi escrava de Joaquim Marques de Quevedo e, segundo consta, era contratada, também, para fazer cobranças. Munida de um rabo de tatu (chicote), apresentava-se para o devedor exigindo que a dívida fosse paga. Era costumeiramente vista no Largo de Santo Antônio (ao lado do Mercado Municipal).
Nhá Quitéria faleceu no dia 09 de janeiro de 1955. Está sepultada no cemitério da Consolação, em Sorocaba, na sepultura 28, quadra 48, segundo Aparecido Modesto de Oliveira. O jornal Cruzeiro do Sul, em edição do dia 11 de janeiro de 1955, assim noticiou a morte de Nhá Quitéria:
“O passamento desta criatura, que até os últimos instantes de sua vida, demonstrava uma disposição incrível para o trabalho, conduzindo a sua carrocinha para baixo e para cima, realizando pequenos expedientes, cavalgando ainda com maestria o seu animal, quando levava-o para o pasto, causou geral consternação na cidade, porque Nhá Quitéria era admirada e estimada por todos os sorocabanos que a conheciam”.
Triste é ver que a sua valentia e “disposição” denunciavam ainda a pobreza em que vivia, dependendo de conduzir carrocinha – “para baixo e para cima” – mesmo no final da vida, para continuar vivendo com alguma dignidade.
Palavras-chaves: Escravidão, Tropeirismo, Valentia, Nome de Rua, Mulher, Tipo Popular, Navalha.
João de Camargo Barros – Conhecido por João de Camargo. Famoso taumaturgo que construiu uma igreja no Bairro da Água Vermelha (hoje Av. Barão de Tatuí) e deu início a uma nova concepção religiosa. João de Camargo foi, ainda, uma liderança negra que procurou transformar os arredores de sua igreja em um reduto de convivência e de liberdade de manifestações típicas da comunidade negra.
Segundo informações de Carlos de Campos e Adolfo Frioli, João de Camargo nasceu em 16 de maio de 1858, no Bairro dos Cocais, em Sarapuí / SP, região de Sorocaba. Era filho da escrava Francisca (conhecida por Nhá Chica) e de pai incógnito. Foi, assim como sua mãe, escravo de Luis de Camargo Barros, de quem recebeu o nome.[7]
Ivanilde Monteiro, no seu trabalho, João de Camargo, sua vida e História, dá como data de nascimento de João de Camargo o dia 05 de julho de 1858. Porém, a data informada por CAMPOS e FRIOLI baseia-se na certidão de batismo do menino João, encontrada em Itapetininga (Livro 02, fls. 16 da Igreja Matriz de N. S. das Dores de Sarapuí).
Foi liberto pela Lei Áurea de 13 de Maio de 1888. Consta que tivera uma educação católica advinda do seu senhor Luis de Camargo Barros e da filha deste, Ana Tereza de Camargo, católica devota. Mas recebeu também influência de sua mãe no que tange as práticas religiosas de origem africana ou afro-brasileiras.
“João cresceu como escravo nessa fazenda caipira de Cocaes: chegou ao mundo vendo sua mãe curar os males dos negros infelizes, deve ter conhecido estranhos universos ancestrais com a cupópia[8] e com a vida em comum nas senzalas, acompanhou as missas na capela da fazenda e na Matriz de Sarapuí”, informam CAMPOS e FRIOLI (1999, p. 106).
O fato é que abolindo-se a escravidão, João de Camargo perambulou por vários locais a procura de serviço. Diz a tradição que com 22 anos João de Camargo estava já em Sorocaba. Isso seria em 1880, portanto, antes da Abolição da Escravidão. Não se coaduna essa informação com a de que ele vivera como escravo na fazenda de Luis Camargo de Barros até o fim da escravatura. Parece ter trabalhado junto ao médico Inácio Pereira da Rocha e ter sido cozinheiro do engenheiro alemão dr. Cosme. Foi ainda empregado de Elias Lopes Monteiro e em 1893 participou do Batalhão de Voluntários na Revolução Federalista.
Casou-se no distrito de Pilar, município de Piedade / SP, com Escolástica Maria do Espírito Santo.[9] Não se sabe ao certo o motivo, mas o casal acabou se separando. Para Ivanilde Monteiro, no trabalho aqui citado, foi a partir da separação que “ele começou a beber de desgosto”.
Por volta de 1905 ele trabalhava na Olaria de Elias Lopes Monteiro. Há relatos de que era bom trabalhador, mas que se embriagava todo dia tão logo acabasse o expediente. Na Igreja que construiu há um quadro com o resumo de sua vida. Nesse texto consta que nessa época João de Camargo “sempre passava por um lugar onde tinha uma cruz, ali ele acendia velas e meditava até altas horas da noite. Foi numa dessas tardes que uma voz lhe falou para fazer curas (a cruz marcava o lugar onde morrera Alfredo – um menino com 8 anos em 1859 – vítima de acidente de montaria – o cavalo disparou arrastando menino até despedaçá-lo”.
Pelos relatos do próprio João de Camargo, posteriormente, apareceram a ele naquele dia o espírito do menino Alfredinho, acompanhado de Nossa Senhora e do espírito do Monsenhor João Soares do Amaral, um padre benemérito de Sorocaba, vítima da epidemia de febre amarela de 1900.
A partir desse dia João de Camargo inicia a construção de uma capela em terras dos Camargo Barros, onde hoje está a Avenida Barão de Tatuí. Começa a atender a população que para ali se dirige em busca de conselhos, de intervenção sobrenatural e de cura. Uma multidão de pessoas começa a procurar o taumaturgo negro da Água Vermelha. Afluem para aquele recanto os mais desvalidos da sociedade.
Também é naquela localidade que começam a viver diversas famílias negras. Ali se estabelece uma territorialidade negra sob a orientação de João de Camargo que ordena a construção de casas, de Hotel, e inicia o povoamento de um bairro.
O ajuntamento de pessoas em torno da Igreja da Água Vermelha irá despertar a perseguição ao culto criado por João de Camargo. Os jornais publicavam na época que tais ajuntamentos provocavam tropelias e desordens de todos os tipos. Há indícios de que no entorno da Igreja ocorriam manifestações afro-brasileiras como batuques e congadas. Por isso, em 1913, João de Camargo foi preso e processado por curandeirismo sendo que na denúncia do promotor público aparecem diversas vezes menções a desordens e perturbações públicas.
João de Camargo, pelo que se noticiou na época, foi instado até a demolir a capela que construíra. Não se sabe exatamente porque, mas um advogado piedadense, que militava o direito em São Paulo, interessou-se pelo caso do negro da Água Vermelha. O advogado Juvenal Parada defendeu João de Camargo, conseguindo-lhe a absolvição. Depois, orientou para que o mesmo registrasse a sua Igreja como uma instituição “espírita”, a fim de fugir das perseguições legais e institucionais. Mesmo assim, por volta de 1920, João de Camargo teve dificuldades em realizar uma procissão.
Em 1934, com fama que extrapolava a cidade – e até mesmo o país – João de Camargo é entrevistado pelo repórter Plínio Cavalcante, da Revista O Malho, que o chama de “Papa Negro”.
A preocupação de João de Camargo com a população que vivia no entorno de sua Igreja é expressa na oferta que fez ao município de uma casa para funcionamento de uma escola no ano de 1936. Apesar de não existir escola naquela região, a Câmara Municipal arquivou o Parecer nº 52, que tratava dessa doação, dizendo que nada havia a deliberar.[10]
Demonstra, também, a liderança de João de Camargo perante a comunidade negra de Sorocaba. É fato conhecido, ainda, que a Banda criada por ele – Banda Musical São Luiz – foi a escolhida pela Frente Negra de Sorocaba para abrilhantar as comemorações da Abolição da Escravatura no ano de 1932.[11] Essa banda, segundo Aluísio de Almeida, foi criada em 15 de agosto de 1917.
João de Camargo Barros faleceu em 28 de setembro de 1942. Seu enterro foi acompanhado por uma multidão de milhares de pessoas. No cemitério da Saudade, onde foi enterrado, erigiu-se um túmulo como réplica da igreja que construiu no Bairro da Água Vermelha. João de Camargo dá nome a uma rua próxima à sua Igreja.
Palavras-Chaves: Escravidão, Abolição, Cultos Afro-brasileiros, Liderança Negra, Territorialidade negra, Religião, Nome de rua, Frente Negra.
Aparecida Amaral Pires (Vó Cida da Vila Amélia) – Também conhecida como Dona Cida. Tornou-se muito conhecida por suas atividades ligadas a liderança no bairro (Vila Amélia) e como benzedeira. Há controvérsias sobre a data de seu nascimento, uma vez que segundo ela mesma informara, seu pai a registrou muitos anos depois. Teria nascido em 1913, embora conste nos seus documentos data posterior.
Nasceu na Vila Amélia, filha de Gregório e Júlia do Amaral. Morou sempre na mesma casa na antiga Rua São João, hoje Rua Major João Lício, na Vila Amélia. Desde cedo ajudava sua mãe na lida de lavadeira e nas tarefas domésticas. Auxiliava na lavagem das roupas e na entrega das mesmas. Teve uma infância pobre e com restrições. Estudou no Grupo Escolar Visconde de Porto Seguro até a quarta série, quando então se dedicou apenas ao trabalho. Foi aluna da professora Dulce Sampaio.
Ao concluir a quarta série primária – como ocorria geralmente com a população pobre – foi trabalhar para complementar a renda da família. Foi empregada doméstica, pajem e auxiliar do consultório médico do Dr. Nilton Vieira de Souza. Um pianista da Rádio PRD7 ouviu-a cantar e a levou para a rádio, onde venceu um concurso de calouros. Dizia Cida Amaral que o radialista Vicente Caputti Sobrinho a apresentava como “Cida Amaral, o samba cantando samba”. Mas a sua carreira de cantora durou pouco. Quando sua mãe tomou conhecimento do fato – sendo Cida ainda menor de idade – proibiu a menina de continuar cantando na Rádio.
Cida Amaral conheceu o curandeiro João de Camargo tendo acompanhado o enterro dele em 1942.
Aparecida Amaral Pires foi operária têxtil na Fábrica Santo Antônio, tendo se aposentado cedo por motivo de saúde. Em verdade, ela tinha desmaios e convulsões inexplicáveis e que os médicos não encontravam a causa. Sua mãe, apesar de freqüentar a Igreja do João de Camargo, era católica fervorosa e por isso não admitia quando sugeriam que o caso de sua filha era de mediunidade.
Mesmo assim, Cida Amaral procurou um terreiro de Umbanda no qual ela desenvolveu sua mediunidade. Por vários anos foi médium de um terreiro de Umbanda, o qual fechou depois que a liderança resolveu se afastar. Cida Pires, então, começou a atender em sua casa, realizando benzimentos. No fundo do quintal de sua casa, num quartinho, atendia dezenas de pessoas diariamente. Em maio de 2007 uma reportagem do jornal Bom Dia atestava que Vó Cida, aos 95 anos de idade, continuava atendendo cerca de 50 pessoas por dia.
Cida Amaral só não atendia às segundas-feiras, dia das Almas. Sua casa era franqueada, ainda, para os feirantes que montavam suas barracas nas proximidades. A feira livre da Vila Amélia ocorre nas sextas-feiras e nesses dias Vó Cida oferecia a energia elétrica para algumas barracas, os sanitários de sua casa, bem como café, água e chá.
Como liderança comunitária, incentivou a realização de competições esportivas no bairro (futebol, corrida...), festa das crianças (no dia de S. Cosme e S. Damião) – momento em que fechava a rua e, por meio de patrocínio de empresas, realizava uma festa com brinquedos, distribuição de doces e refrigerantes, e apresentações artísticas – bem como a tradicional feijoada do dia 13 de Maio. Foi a primeira pessoa, juntamente como José Desidério, a realizar a reverência à Mãe Preta, levando flores ao monumento chantado na Praça Castro Alves, em frente à Rodoviária. Foi ainda participante ativa dentro da Sociedade “28 de Setembro”. Foi jurada em concursos de beleza, como o de Miss Colored.
Era devota de João de Camargo.
Em 2007 foi homenageada pelo bloco carnavalesco “Depois a gente se vira”. Faleceu em 02 de outubro de 2008, sendo sepultada no Cemitério Santo Antônio em Votorantim / SP.[12] Foi também homenageada no livro de Benedito Aleixo, Celebridades I – Populares, Artistas e famosos, com versos que diziam: “Velha guerreira teu nome é lição de vida / Vida surrada, calejada de batente / Só poderia ter como símbolo a margarida / que nasce aberta, sem segredos e transparente...”.[13]
Em setembro de 2011 foi anunciada a construção de um Espaço Comunitário Infantil, pelo MOMUNES (Movimento das Mulheres Negras de Sorocaba), no Jardim São Marcos, e que receberia o nome de “Aparecida Amaral Pires”.[14]
Palavras-Chaves: Escravidão, Abolição, Cultos Afro-brasileiros, Liderança Negra, Territorialidade negra, Religião, Benzedura, Liderança comunitária, Carnaval, Mulher Negra, Miss Colored, Vila Amélia.
Benedito Maia Júnior (Maia Jr) – Bailarino e professor de dança. Nascido em 07 de fevereiro de 1958 e falecido em 06 de outubro de 2010, vítima de um infarto fulminante. Era formado em Hotelaria pela Uniso e em Dança (clássica, contemporânea e jazz). Começou seus estudos de dança com Janice Vieira, em 1976. Segundo o jornal Diário de Sorocaba, edição do dia 07 de outubro de 2010, Maia Júnior “foi um dos primeiros artistas sorocabanos a introduzir a arte da performance na cidade, propondo intervenções em praças, bares e espaços culturais alternativos, com materiais diversos (conduítes, bexigas, máscaras, tecidos). Atualmente, ministrava cursos de dança de salão”.
Em 1992 promoveu o espetáculo “Por um instante de brilho” e, em 1999, “À luz dos olhos”, ambos considerados inovadores e importantes para o cenário da dança.
Além das aulas particulares, Maia Júnior lecionava dança, desde 2002 em projeto da Prefeitura Municipal de Votorantim e na Universidade da Terceira Idade, programa da UNISO.
Para o jornal Bom Dia, Janice Vieira disse que considerava Maia Júnior “foi uma figura corajosa e determinada, que rompeu barreiras do preconceito”.[15]
Algumas peculiaridades marcaram a personalidade de Maia Júnior. Primeiro, o fato de estar sempre alegre, rosto sereno e sorriso fácil. Depois, o costume de cumprimentar as pessoas com a palavra “Namastê”, saudação comum entre os orientais do sul da Ásia, especialmente entre nepaleses e indianos. Por fim, por ser freqüentador assíduo do Bar Arara Aurora, em Sorocaba.
Palavras-Chaves: Dança, Cultura Alternativa, Preconceito
José de Barros Prado (Zé Jaú) - Conhecido por Zé Jaú ou apenas Jaú. Nascido em Tietê em 15 de maio de 1929. Era alto, esguio, ágil e de boa aparência. Era motorista particular nas Indústrias Barbéro, lá pelos idos de 1955.
Freqüentava os bailes do clube 28 de setembro e os blocos de carnaval. Nesses bailes, havia sempre disputas e isso acabava em confusão. Era o momento em que o pessoal do Jaú entrava em ação: cabeçadas, chutes, pontapés, rasteiras... Era a chamada Pernada, luta considerada como a capoeira primitiva paulista.
Luzia Dionísio Prado, que foi casada com Zé Jaú, afirma que a pernada era chamada também de capoeira. Acredita que o Zé Jaú tenha aprendido “com os antigos de Tietê”. Jaú praticava a pernada aos domingos, nas rodas de samba do clube 28 de setembro ou no campo de futebol de chão de terra batida da Água Vermelha, próximo a Igreja de João de Camargo. Não se tocava berimbau, mas sim a pernada era jogada ao som do samba. Formava-se uma roda e um dos participantes, do centro da roda, jogava a pernada com outro companheiro.
Zé Jaú foi praticante da pernada sorocabana até a sua morte ocorrida em 13 de abril de 1964.
Palavras-Chaves: Pernada, Capoeira, Igreja de João de Camargo, Territorialidade negra, Clube “28 de Setembro”, Samba
Luiz de Freitas Gomes (Violão) – Cantor e instrumentista. Nascido em 09 de março de 1917, Violão, como era conhecido, era crooner do Jazz Irmãos Cavalheiro e, também, do broadcasting da Rádio Clube de Sorocaba (PRD – 7). Era seresteiro e boêmio. Faleceu em 26 de janeiro de 1953, aos 35 anos, sendo sepultado no dia seguinte, na sepultura 4 da quadra 16 do Cemitério da Saudade.
Em artigo assinado por Freitas Júnior, publicado no Jornal Cruzeiro do Sul em 30 de janeiro de 1953, que se reporta à morte de Violão, lê-se as seguintes informações:
“Luiz de Freitas Gomes, nascido a 9 de março de 1917, faleceu às 16,30 horas do dia 26 de 1953, aos 35 anos, no Hospital das Clínicas de São Paulo.
Conforme laudo médico, morreu com câncer no estômago (Carcimona no estômago).
Dado ao adiantamento da moléstia e à infelicidade de não termos ainda um remédio para o mal nessa altura, todos os esforços da ciência seriam, o que se constatou, inúteis”.
Dizem que tinha uma voz bela e sentimental a ponto de Francisco Alves, chamado de “O Rei da Voz”, em visita a Sorocaba, e depois de ter ouvido o Violão cantar, teria dito a ele: “você canta magnificamente. Aceite, portanto, meus parabéns”.
Foi cantor apreciado, também, nos carnavais quando a PRD – 7 animava os bailes do Sorocaba Clube com a sua “Favelinha”.
Grande multidão de pessoas acompanhou o seu enterro. A comoção foi geral. Os telefones da Rádio PRD – 7 não pararam de tocar assim que foi anunciada a morte de Violão. Sobre Luiz Gomes, o jornalista Ladeia Neto escreveu: “Violão, sem ter cursado uma escola superior. sem nunca ter sentado num banco de conservatório musical, fez da música, com a maestria dos mais consagrados cantores, o pedestal da sua rápida mas consagradora gloria. A sua alma de poeta e de boêmio era dedilhada por um sentimentalismo sem par e a sua voz infundia em nossos corações um raio de esperança e nos despertava para o belo [...]”.
A sua morte foi considerada uma grande lacuna na radiofonia da cidade. Em seu túmulo, como homenagem, há um violão de concreto.
Palavras-Chaves: Música, Seresta, Rádio, Jazz, Cantor de Rádio, Carnaval, Boêmia.
Daniel Araújo – Cururueiro, ou seja, cantador de desafio – chamado cururu – típico da região do Médio Tietê. Nasceu em 21 de maio de 1938 em Sorocaba. Foi trabalhador das Indústrias Barbéro, na mesma época em que trabalhou como motorista o Zé Jaú, por volta de 1958.
Conheceu a pernada, tendo participado do documentário “Pernada em Sorocaba”, produzido e dirigido por Joelson Ferreira, como entrevistado.
Nos carnavais sorocabanos, saiu no Bloco dos Esfarrapados ou Farrapados. Como cururueiro, iniciou na década de 1970, cantando até o final de sua vida. Era especialista em improvisar versos com temática bíblica (cantar na folha, como se diz no universo do cururu). Tinha o epíteto de “Chuva de Pedra”. Figura entre os cururueiros que foram biografados por Cido Garoto no seu livro “Cururu, Retratos de uma Tradição”, publicado em 2003.
Faleceu em 28 de novembro de 2007.
Palavras-Chaves: Música, Cururu, Pernada, Carnaval.
João da Costa Carvalho (João Davi ou João David) – Um dos mais afamados cururueiros que residiu em Sorocaba. Nasceu, segundo o folclorista Bene Cleto, em 15 de março de 1901 em Pereiras / SP. Há algumas fontes que dão conta dele ter nascido em Tatuí e outras em Maristela. O pesquisador Paulo Fraletti é incisivo ao afirmar que João Davi nasceu na fazenda Palmeiras, no município de Pereiras / SP.
Bene Cleto diz que ele realmente nasceu em Pereiras, mas foi criado em Tatuí, cidade onde contraiu núpcias com Leandrina Francisca Alves, com quem teve 11 filhos. Trabalhou na lavoura e como carroceiro em Tatuí, Pereiras e Maristela. Falecendo a esposa, veio para Sorocaba, isso por volta de 1934 ou 35, trabalhando como oleiro na Olaria Sola. Aposentou-se em Sorocaba pelo Sindicato Rural. Parece ter aprendido algo em relação a cantar com referências às Escrituras com um antigo curureiro chamado Tranquilo de Lázaro.
Paulo Fraletti informa que João Davi foi futebolista, tendo jogado no Clube 7 de Setembro, da cidade de Pereiras. Consta que tenha se apresentado como cururueiro, pela primeira vez, no cinema de Tietê.
Na década de 1930, no início da era do Rádio, consta que João Davi mantinha em Piracicaba um programa dedicado ao cururu. É provável que seja o primeiro programa radiofônico dedicado exclusivamente ao cururu. Tinha por nome “O Raiar do Ranca Lasca” e foi produzido quando João Davi ainda residia em Maristela. Quando Roque José de Almeida lançou um programa similar em Sorocaba, pela Rádio Vanguarda, João Davi foi convidado a encabeçar um do mesmo gênero na Rádio Cacique. Diz-se que por volta de 1932 introduziu o menino Benedito Silva Moraes, que posteriormente adotou o nome de Dito Silva, no cururu.
Nas comemorações do Centenário da Abolição (1988), João Davi recebeu da Câmara Municipal o título de “Cidadão Sorocabano”. Contava com 88 anos de idade.
Faleceu em 26 de junho de 1992 aos 91 anos de idade. Somente no dia 30 de junho o jornal Cruzeiro do Sul fez um editorial intitulado “O Salmista do cururu”, dando conta da morte de João Davi. O referido editorial dizia: “Ao leitor de nossa edição de domingo talvez tenha passado despercebida a notinha singela, em meio da coluna de falecimentos, dando conta da morte, ocorrida na véspera, aos 91 anos, de João da Costa Carvalho.
Mesmo entre os que a leram poucos conseguiram identificar, por trás do nome civil, a figura de uma das maiores e mais respeitadas personalidades da cultura popular paulista, o mestre cururueiro João Davi”.
Palavras-Chaves: Música, Cururu, Rádio, Cidadão Sorocabano, Maristela, Tatuí, Olaria Sola, Pereiras, Tietê.
Adocicada – Tipo popular. Negro, vendedor de frutas que eram transportadas em carrinho de madeira. O seu pregão era: Adocicada... Adocicada... (com referência às frutas). Dizem que as crianças pediam a ele que cantasse. Neide Baddini Mantovani em seu livro 'Sorocaba Diacrônica', registrou a letra da música do Adocicada: 'Venha logo criançada/ Chupá fruta, laranjada/ Fruta boa e gostosa / do negro Adocicada!'
Ela também faz uma descrição do Adocicada: “Adocicada era um vendedor de frutas que trazia sua mercadoria num carrinho de mão feito de madeira. Era um negro fosco, encorpado, alto, olhos meio baços e meigos, eterno sorriso nos lábios grossos, grandes dentes amarelados à mostra e, segundo ao mais novo dado colhido nesta semana, com enormes pés semelhantes a grossas e negras raízes fincadas ao chão desta nossa Sorocaba” (MANTOVANI, 1992, p. 66).
Infelizmente, não se conseguiu outros dados, tais como nome civil completo e datas de nascimento e falecimento deste que foi um personagem marcante na vida dos sorocabanos de décadas atrás.
Palavras-Chaves: Tipo Popular.
Maria Claudete Ribeiro (Kal) – Nascida em 1º de fevereiro de 1955, na cidade de Sorocaba, filha de Diva Ribeiro e de João Ribeiro. Era a irmã mais velha dos filhos do casal: João Ribeiro, Maria Teresa, Maria Eloísa, Marisa Isabel e Glaucia Aparecida.
No início da década de 1970, conforme testemunha a jornalista Hélia Neves Fernandes, foi a primeira mulher de Sorocaba a obter o registro em São Paulo de manequim.[16]
Antes, segundo informações de sua irmã Marisa Isabel, Kal morou em São Paulo, onde trabalhou como doméstica enquanto se formava em modelo profissional (manequim).
Tempos depois fundou em Sorocaba uma escola de manequins, ensinando técnicas de passarela a diversas pessoas. Com a escola, veio em 1985 o Bloco carnavalesco Kal Manequins, no qual desfilavam alunos e amigos.[17] Dedicou boa parte de sua vida ao carnaval sorocabano, convertendo o Bloco em Escola de Samba e lutando para que o carnaval de rua sorocabano continuasse recebendo apoio do Poder Público, especialmente depois que a Prefeitura, em meados da década de 1990, resolveu cancelar a verba destinada para esse evento.
Kal foi responsável ainda por diversos concursos de beleza, abrindo sempre espaço para a participação da mulher negra, como o “Miss Colored”, “Bonequinhas de Café” e, ainda, quando trouxe para Sorocaba o concurso “Garotas do Fantástico”, no qual se apresentou Letícia Spiller, em início de carreira. Em 22 de agosto de 1986 promoveu o Show Desfile e Noite das Manequins, na cidade de São Miguel Arcanjo, com a presença de manequins de Sorocaba, São Paulo, Itapeva, Itu e Piraju[18].
Maria Claudete quebrou preconceitos e abriu espaço para as mulheres negras no universo das passarelas.
Em 1993 Kal foi diagnosticada com câncer. Lutou por seis anos contra a doença. Faleceu no dia 17 de junho de 1999, aos 44 anos de idade. Deixou 3 filhos: Alexandra Ribeiro dos Santos, Edson Ribeiro dos Santos e Diva Helena Ribeiro dos Santos. Era casada com Edson dos Santos. Foi sepultada no Cemitério da Consolação, no bairro da Árvore Grande, em Sorocaba, terra em que nasceu e que tanto amou.
Palavras Chaves: Manequim, Mulher Negra, Miss Colored, Carnaval, Beleza Negra, Preconceito.
Alzira Correa – Importante e famosa figura popular sorocabana. Seu nome verdadeiro era Alzira Corrêa. Era conhecida como Alzira Sucuri ou Alzira Louca. Freqüentadora da Praça Coronel Fernando Prestes, reduto dos tipos populares, no centro. Falava que era uma noiva abandonada no altar. Os seus “noivos” eram pessoas da sociedade, segundo as suas histórias. Xingava os moleques que a chamavam de Sucuri. Quando via um casal de namorados exclamava: “Casar que é bom ninguém quer”. Foi, por muitos anos, interna do Hospital Psiquiátrico Jardim das Acácias. Vicente Caputti Sobrinho a descreve como “uma espécie de Hidra de Lerna que poderia surgir em cada esquina vomitando fogo pela boca, assustando as donzelas e provocando uma algazarra pandemônica entre os moleques...” (CAPUTTI SOBRINHO, 1995, p. 29). E, ainda, informa que numerosas queixas chegavam à delegacia de policia contra “a pobre mulher que carregava uma boneca nos braços e uma coleção de frases obscenas na boca sem dentes” (p. 29). Já a escritora Neide Baddini Mantovani, em suas reminiscências e reflexões sobre as temporalidades, diz que Alzira Sucuri era um dos verdadeiros patrimônios públicos que o progresso da cidade engoliu (MANTOVANI, 1992, p. 68).
A Alzira Sucuri, a Alzira Louca, a nossa Alzira deixou-nos no dia 17 de Agosto de 2000. No dia 22 de agosto de 2000, este autor publicou no jornal Tribuna de Sorocaba o texto abaixo, alusivo à morte de Alzira Corrêa:
A ALZIRA MORREU. ADEUS, ALZIRA.
Foi o amigo José Rubens Incáo quem transmitiu-me a tétrica notícia. A Alzira Sucuri, a Alzira Louca, a nossa Alzira deixou-nos no dia 17 de Agosto de 2000.
Lembro-me de tê-la visto poucas vezes a andar pelas ruas centrais da cidade. Uma vez, e esta a lembrança me é a mais viva, descendo a rua Hermelino Matarazzo, na Vila Santana. Entretanto, a grande maioria dos sorocabanos recorda-se da figura desengonçada da Alzira a ralhar com a molecada que lhe assobiava ou mesmo que lhe chamava de Sucuri. Ou então, os casais de namorados aos quais ela costumava abordar dizendo: "Casar que é bom ninguém quer!".
Ela contava muitas histórias sobre si, de que fora noiva de uma importante pessoa da cidade. O folclore acrescentou-lhe outras tantas. E Alzira tornou-se uma figura popular, um personagem do cotidiano urbano de Sorocaba. Quiçá, a mais famosa de todas.
Alzira é um ícone entre os tipos populares. Ela foi a última personagem de rua de uma Sorocaba que a dinâmica urbana modificou. Os tipos populares sempre foram e sempre serão uma constante no dia-a-dia e no folclore de Sorocaba. No entanto, Alzira pertencia a uma época em que havia uma intimidade maior entre os personagens populares e os simples e comuns munícipes. Hoje não conhecemos os personagens pelos seus nomes e sim, e apenas, por suas características. Qual o nome do "Homem da Bicicleta" (aquele que tem uma bicicleta toda enfeitada de parafernálias)? E aquele que se veste de Batman? Ou mesmo aquele que imita freada de ônibus nos Terminais?
Antigamente, conhecíamos os tipos populares por seus nomes, seus costumes. A densidade demográfica e o crescimento acelerado da urbe obrigam-nos a agir de acordo com o ritmo dessas transformações. A Sorocaba dos Shopping's, dos Hipermercados, das avenidas largas não é a Sorocaba da Alzira, da Maria Picareta, do Correia, do Hervado, do João Três Pulos, do Adocicada...
A cidade é grande demais para eles. Cresce demais, quase gera conurbações. Um quase ensaio de metrópole. E os tipos populares continuam surgindo. Quem muda de comportamento somos nós.
E a Alzira, a já saudosa Alzira está no céu, vendo lá de cima essa cidade que se agiganta e que aos poucos vai perdendo suas características e sua identidade. E ao olhar para a Praça Coronel Fernando Prestes, tão modificada em relação a que conheceu, certamente gritará para nós: "Ei, cambada. Casar que é bom ninguém quer, né?"
Palavras Chaves: Tipo Popular
Jorge Narciso de Matos – Nascido em Pereiras / SP no dia 16 de janeiro de 1945. Filho de Sátiro de Matos e Francisca Vaz de Almeida. Foi funcionário público federal lotado no INSS (antigo INPS) a partir de 1964, passando pelas funções de Escriturário, Diretor de Divisão, Inspetor Assessor Técnico de Superintendência, cargo pelo qual se aposentou em 1993. Sociólogo, professor e político em Sorocaba. Formou-se em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Itararé / SP, em 1976. Fez especialização em Cultura Brasileira pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba (atual UNISO), em 1985, e Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade de Guarulhos / SP em 1995.
Foi docente de História Contemporânea da África na UNISO (Curso de História) em 2003. Participou do Conselho Editorial da Revista de Estudos Universitários da UNISO (1996 a 2003) e da Comissão de Apoio à implantação da Universidade de Sorocaba. Tomou posse como membro do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba em 1994, tendo como patrono o Padre Diogo Antônio Feijó. Presidiu a Academia Sorocabana de Letras de 1995 a 1997, entidade na qual ocupava a cadeira nº 40, tendo como patronesse Cecília Meireles. Também foi presidente do Conselho Consultivo da Sociedade Cultural, Recreativa e Beneficente “28 de Setembro”, nos anos de 1982 a 2003 e, ainda, presidente do Conselho Superior da Fundação Cafuné (1994 a 2003).
Publicou diversos artigos na imprensa local e em revistas, incluindo no jornal O Tambu, dedicado à comunidade negra de Sorocaba. Foi membro do ICAB (Instituto de Cultura Afro-Brasileira), que deu origem ao NUCAB (Núcleo de Cultura Afro-Brasileira), hoje ligado à UNISO.
Foi o único negro a ocupar a presidência da Fundec, Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba. Deteve diversos títulos e honrarias, como o de Cidadão Sorocabano, pela Câmara Municipal de Sorocaba. Era rotariano, sendo Governador de Distrito de 1991 a 1992. Foi diretor da Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba. Publicou as seguintes pesquisas: Artigos - Não somos o que fomos. Revista de Estudos Universitários, Sorocaba (SP), v.20, n.11994; O Indefinível Niccoló - Jornal Cruzeiro do Sul, Sorocaba, 15.9.95; NEGRO, Escravidão, Abolição e Racismo – idem, Ed. 13.5.88; Empregador rural - Um sistema previdenciário falido - apresentado à superintendência do IAPAS/RJ, 1984; Aspectos da Assistência Médica ao Trabalhador Rural - apresentado no VII Brazilian Hospital Convention, e publicado na Revista Vida Hospitalar. nº 16:16:1; Medicina Social - Um sistema previdenciário inviável. Apresentado à superintendência do INAMPS / RJ. 1978; Movimentos da Comunidade Negra de Sorocaba. O Tambu, set./93; A saga de um chimango: Feijó, o liberal. Revista de Estudos Universitários, Sorocaba (SP), v. 13, n. 1, dez. 1987. Livro - Previdência social & realidade brasileira: convergências e desencontros. Guarulhos - SP (SP): UnG, 1995.
Faleceu num acidente automobilístico na Rodovia Raposo Tavares, no dia 30 de agosto de 2003. Há um projeto de Lei da Assembléia Legislativa de São Paulo (Lei 12143) denominando de Jorge Narciso de Matos à passarela de pedestres do km 92 da Rodovia Raposo Tavares.
Palavras Chaves: Academia Sorocabana de Letras; Instituto Histórico Geográfico e Genealógico de Sorocaba; Nome de logradouros; Sociedade Cultural, Recreativa e Beneficente “28 de Setembro”; Fundação Cafuné; ICAB; NUCAB; Formação Acadêmica; Cidadão Sorocabano; Liderança Negra; Imprensa negra sorocabana.
Thereza Henriqueta Marciano – Nascida em Tietê no dia 22 de setembro de 1932. Filha de João André e de Isabel Fabiana. Seu pai era capoeirista e foi citado na terceira edição do livro Dicionário de Capoeira, de autoria de Mano Lima, lançado em 2007. Um fato curioso é o que se conta sobre a origem do nome dessa família, ou seja, Marciano. Thereza adquiriu esse nome de seu esposo. Segundo relatos orais da tradição familiar, Marciano Campos, avô de Joel Marciano – casado com Thereza Henriqueta – não quis perpetuar o nome “Campos” na família, por ser esse originário dos antigos senhores. Depois que se livrou da escravidão, Marciano Campos passou a registrar os filhos com sobrenome “Marciano”. Assim, um de seus filhos recebeu o nome de Antônio Marciano. Este se tornou pai de Joel Marciano.
Thereza e Joel se conheciam desde crianças, mas começaram a namorar quando jovens, enquanto frequentadores dos bailes do Clube “28 de Setembro”. Após seis meses de namoro, no dia 21 de maio de 1955, casaram-se – união que durou 48 anos – constituindo uma família de nove filhos (Deise, Cleide, Neide, Rodnei, Sidney, Devanei, Meire, Gleice e Leide Débora), 25 netos e 19 bisnetos. Joel Marciano era árbitro de futebol pela Federação Paulista, segundo relato de sua filha Leide Débora.
Por falta de condições financeiras, Thereza começou a fazer penteados nos próprios cabelos para frequentar os bailes do Clube “28 de Setembro”. Ela trabalhava, nessa época, na Fábrica de tecelagem. Aos sábados começou a fazer penteados em si e nas amigas. Com o aumento da procura, começou a cobrar por esse serviço que lhe rendeu um dinheiro extra. Mesmo com o fechamento da fábrica e tendo de trabalhar como babá e empregada doméstica, dona Thereza Marciano não deixou de realizar os penteados, cuja procura aumentava, pois não havia que fosse especializado em penteados afros. Por volta de 1977, Joel Marciano conseguiu um emprego fixo de motorista da Viação Cometa. Esse emprego garantiu certa estabilidade financeira para a família e, com isso, dona Thereza Marciano pôde se dedicar a especialização em penteados afros, trabalhando num famoso salão de cabeleireiros (Toninho Black Power) da Galeria 24 de Maio, em São Paulo. Durante dois anos, de 1982 a 1984, dona Tereza ia diariamente para São Paulo trabalhar nesse salão. Com um abono de final de ano, Joel Marciano, e ainda com a ajuda das filhas Cleide e Meire, comprou os primeiros móveis para um salão de beleza, montado num espaço da própria residência, na Vila Fiore. Em 21 de dezembro de 1987, em sociedade com o primo Nelson Maçã, fundou o Salão Afro’s Cabeleireiros, especializado em cabelos de negros. Nesse salão trabalhavam Nelson Maçã e Thereza Marciano e seus filhos Devanei (Nei), Cleide (Tede) e Meire. O salão era instalado na rua 7 de Setembro, nº 37, no centro de Sorocaba, onde ficou por 17 anos. Depois mudou-se para a rua Sarutaiá, nº 183, onde ficou por dez anos. É considerado o pioneiro na especialização de cabelos de negros em Sorocaba.
Outra história interessante que envolve dona Thereza Henriqueta Marciano está relacionada ao Budismo de Nitiren Daishonin. Em 1969, passando por sérias dificuldades financeiras e de saúde, dela e de seis dos então sete filhos, Thereza Henriqueta resolveu pedir auxílio, batendo de casa em casa na Vila Fiore. Numa dessas residências, de propriedade de um senhor chamado João, estava ocorrendo uma reunião budista. A filha Leide Débora Marciano conta o episódio:
“Um senhor japonês chamado Shoji, perguntou pra minha mãe se ela tinha problemas, quando ela ia começar a lamentar da vida foi interrompida e falaram pra ela ir até a frente do oratório e desejar com toda sua fé o que ela mais queria e a ensinaram um mantra pra que recitasse repetidas vezes, e assim ela fez. No momento, esquecendo a fome, o que ela desejou foi saúde para ela e para os filhos e um emprego digno a meu pai. Então já se despedindo das pessoas seu João pediu que esperasse um pouco e foi para o fundo da casa, minha mãe esperou e logo veio seu João com duas sacolas de compra dizendo que a primeira pessoa que conhecesse o budismo através dele, em forma de gratidão ele daria uma compra...”.
Dona Thereza Marciano encantou-se com essa religião, pelos ensinamentos e pelo alento que ela proporcionava. No dia 18 de março de 1969 ela se converteu ao Budismo de Nitiren Daishonin. Logo, com muita fé, obteve a cura de si e dos filhos e seu marido conseguiu o almejado emprego. Por toda a sua vida, a partir daquela data, Thereza Marciano se dedicou ao budismo, assim como boa parte de sua família.
Segundo sua filha Leide, que passou a maior parte das informações desta biografia,
“No budismo minha mãe aprendeu que tem que orar e agir, e não fez outra coisa, ela não parou um só instante. Sua determinação, vontade de viver, bom senso e liderança, foi e tem sido a base da família até então. Nove filhos, vinte e cinco netos e dezenove bisnetos estamos na 5ª geração onde a maioria pratica o budismo. Já se vão 43 anos de Budismo de Nitiren Daishonin em nossa família”.[19]
Tendo duas de suas filhas estudando na Uniso e fazendo parte do Nucab (Núcleo de Cultura Afrobrasileira), estas, ao tomar contato com a cultura afrobrasileira, tiveram a ideia de constituir um coral especializado em músicas de origem africana ou afrobrasileira. Dona Thereza Marciano empolgou-se com a iniciativa e tomou a frente da formação de um coral composto por pessoas da família, já que esta era bastante numerosa. Surgiu assim o Coral da Família Marciano, o qual se apresentou na Câmara Municipal de Sorocaba, na Fundec (Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba), Praça Coronel Fernando Prestes, Sorocaba Clube, além de eventos em outras cidades como Alumínio, Boituva e numa reunião budista em São Paulo.
Thereza Henriqueta Marciano foi citada no trabalho de pesquisa das professoras Maria de Lourdes Monaco Janotti e Zita de Paula Rosa sobre famílias negras do Estado de São Paulo. Desse trabalho surgiu o artigo Memory of Slavery in Black Families of São Paulo, Brazil; inserido no livro Between generations: family models, myths and memories, organizado por Daniel Bertaux e Paul Thompson, publicado em 2005 pela Transactions Publishers, de New Jersey.
Thereza Marciano foi exemplo de mãe incentivadora, que apoiava as iniciativas e empreendimentos dos seus filhos. Costumava dizer frases de incentivo como, por exemplo, “Você tem tempo, idade e oportunidade. Não desperdice”; ou “Dos meus filhos sou o incentivo para que se joguem em seus objetivos e deem voos altos, mas também sou o paraquedas ali sempre junto, para um pouso tranquilo e seguro”.
Faleceu em 14 de março de 2006, vítima de câncer no intestino.
Palavras-Chaves: Coral da Família Marciano, Budismo, Famílias negras, escravidão, resistência, autoestima da comunidade negra, Nucab, Salão de Beleza Afro’s.
Benedito da Conceição Alves – Conhecido por Dito Vassourinha ou apenas Vassourinha. Nasceu em 1944, em Sorocaba. Tipo popular foi engraxate na Praça Cel. Fernando Prestes por mais de 30 anos. Ganhou o apelido de Vassourinha por desfilar na Escola de Samba “28 de Setembro”, fazendo acrobacias com uma vassoura enfeitada. Quando a Prefeitura Municipal criou um Box para os engraxates da Praça Cel. Fernando Prestes, coibindo o exercício da profissão fora daquele local, Dito perdeu o posto, mas por influência de Ervino Wittee, gerente do Hotel Ferraretto, conseguiu licença para engraxar debaixo das colunas do prédio, no canto da praça. Casou-se com Maria Amália, com quem teve sete filhos.
Foi citado por Benedito Aleixo no seu livro Celebridades I – Populares, Artistas e Famosos – Poesias e relatos, publicado em 2006. Recebeu, nesse livro, a homenagem por meio de uma poesia intitulada Vassoura de Ouro, na qual alguns versos diziam:
“Vassourinha fez da rua a tua escola
Da vassoura o seu nome de batismo
Batucando no sapato do cartola
Ganhando a vida fazendo malabarismo...
[...]
Na escola Vinte e Oito de Setembro
Destaque, mestre sala, lindas morenas
Desse passado que eu ainda me lembro
Vassourinha era quem roubava a cena...”[20]
Faleceu em 18 de abril de 1987, aos 43 anos.[21]
Palavras Chaves: Tipo popular
Achilles Campolim – Pecuarista e empresário. Nasceu em 15 de agosto de 1887, em Sorocaba. Fez o curso primário no Grupo Escolar “Visconde de Porto Seguro” e, ainda, com professores particulares. Estudou música, tendo predileção pelo piston. Participou da Corporação Musical “Lyra Sorocabana”.
Entre 1905 a 1911 trabalhou na Fábrica de Arreios Ferreira & Cia, no bairro do Além Ponte. Foi responsável pela introdução de novidades na fabricação de arreios, como estribo de madeira vergada, em vez da de ferro fundido.
Em 1912 montou um moinho de fubá e pó de café e iniciou a criação de vacas leiteiras.
Casou-se com Leopoldina Moura Leite. O casal teve os filhos: José Fausto (advogado), Mário, Ondina, Iracema e Olga (estas, professoras públicas), Estela (contadora) e João Batista (agricultor).
No ano de 1918 adquiriu dos herdeiros do cap. Elias Monteiro a gleba de terra situada no bairro da Água Vermelha. Montou ali uma chácara que foi chamada de “Chácara do Quiló” (modificação do nome Achilles). Em 1920 muda-se com a família para essa chácara onde desenvolve a agricultura e a pecuária. Em pouco tempo, formou uma das maiores produtoras de leite da cidade. Ajudou a fundar a Cooperativa dos Produtores de Leite de Sorocaba, na década de 1930. Fez parte da diretoria do Instituto de Higiene Mental (Manicômio) “Dr. Luiz Pereira de Campos Vergueiro” e das corporações musicais Santa Cecília e São Vicente. Foi membro da Loja Maçônica Perseverança III.
Participava, fornecendo animais e arreios, das cavalhadas no Velódromo ou no Parque Castellões.
Faleceu em 18 de janeiro de 1949, sendo sepultado no Cemitério da Saudade.[22] Achilles Campolim dá nome a uma rua no Jardim Vergueiro. José Aleixo Irmão lembra que a Cooperativa fundada por Campolim deu origem à Colaso.
Sobre essa Cooperativa, o jornal Cruzeiro do Sul noticiou em 18 de setembro de 1936, à pagina 04:
Cooperativa os leiteiros de Sorocaba.
Essa nova entidade associativa local fará hoje realisar, em seu edifício próprio e recentemente construído, á rua Ubaldino do Amaral, pegado ao CRUZEIRO, diversas experiências dos modernos machinarios e refrigeração do leite.
A nossa folha foi convidada para assistir às provas”.
Sobre o falecimento de Achilles Campolim, o jornal A Folha de Sorocaba noticiou:
Faleceu o Sr. Aquiles Campolim
Com a idade de 60 anos faleceu ante-ontem, o Sr. Aquiles Campolim, (Quiló), que gozava de grande estima em nossa cidade.
O extinto era casado com a sra. Leopoldina Campolim e deixa os seguintes filhos: José, casado com d. Clyde [sic] Silveira Campolim; Maria José, casada com o Sr. Armando Miranda; Sílvio, Ondina, Iracema, Estela, Olga e João, solteiros.
O seu sepultamento deu-se ontem, ás 17 horas, saindo o féretro da Chácara Quiló (Bairro Água Vermelha) para o cemitério da cidade com grande acompanhamento.
‘A Folha de Sorocaba’ apresenta, á família enlutada, sentidas condolências”.[23]
Já o Cruzeiro do Sul noticiou desta forma:
FALECIMENTOS
SR. ACHILLES CAMPOLIM (QUILÓ) – ocorreu na madrugada do dia 18, o infausto passamento do benquisto cidadão sorocabano Sr. Achilles Campolim, adeantado fazendeiro no município, diretor fundador da Cooperativa dos Produtores de Leite. “Soberano Príncipe – Rosa e Cruz” da Loja Perseverança Brasil III e chefe de numerosa e distinta família de nossa terra.
O extinto, mais conhecido na intimidade por Quiló, contava 60 anos de idade, deixa viúva a exma. Sra. D. Leopoldina Campolim e os seguintes filhos: Dr. José Fausto Campolim, casado com D. Cleyde Silveira Campolim, residentes em São Paulo; profa. Maria José Campolim Miranda, casada com o Sr. Armindo Miranda, funcionário da E. F. Sorocabana; Sílvio Campolim, contador da Prefeitura Municipal, profas. senhs. Ondina, Iracema, Stela e Olga, e João, todos solteiros.
Deixa uma nora, D. Francisca Lisbôa Campolim, viúva do Sr. Mário Campolim, e dois netos: Waldomiro e Sonia Maria.
Era irmão das Sras. Adelaide Leme Campolim e Emídia Campolim.
O seu sepultamento, deu-se ante ontem ás 17 horas no Cemitério da Cidade. saindo o féretro com enorme acompanhamento da Chácara do Quiló, Bairro da Água Vermelha”.[24]
Achilles Campolim conquistou o respeito da sociedade sorocabana, tanto como empresário como homem envolvido nas mais diversas entidades e associações, sejam elas culturais – como a Banda Santa Cecília, do maestro Dimas de Mello – sociais e filantrópicas.
Palavras Chaves: Maçonaria; Cooperativa dos Produtores de Leite; Pecuarista; Empresário; Bairro Água Vermelha.
Luiz Leopoldino Mascarenhas – Ferroviário, Juiz de Paz e vereador de Sorocaba. Era conhecido por Luiz Pequeno. Nasceu em 14 de outubro de 1909[25], em Sorocaba. Em 1925, aos 16 anos de idade começou a trabalhar na Estrada de Ferro Sorocabana onde se aposentou em 1956. Como militante do movimento negro, foi orador oficial da Frente Negra Brasileira, seção de Sorocaba, empossado em abril de 1935[26]. Luiz Pequeno esteve à frente da presidência do Clube “28 de Setembro” na década de 1950.
Era, também, correspondente de Sorocaba no jornal da Frente Negra. Foi Juiz de Paz, tendo realizado diversos casamentos, entre eles o de José de Barros Prado (Zé Jaú) com Luzia Dionísio Prado em 02 de junho de 1962.
Luiz Leopoldino Mascarenhas foi o primeiro vereador negro de Sorocaba, eleito para a legislatura de 1º de janeiro de 1952 a 31 de dezembro de 1955. Essa foi a segunda legislatura municipal após a ditadura do Estado Novo.
Como vereador, destacou-se na defesa dos negros, como se depreende da publicação no Diário Oficial do Estado de São Paulo que segue abaixo:
Diário Oficial do Estado de São Paulo, Ano LXV, nº 248, Quarta-feira, 09 de novembro de 1955, p. 49.
O SR. SALGADO SOBRINHO – (Sem revisão do orador) – Sr. Presidente, ocupo esta tribuna atendendo a solicitação que me foi dirigida pela Câmara Municipal de Sorocaba, através do Requerimento n. 317-55, de autoria do vereador Luiz Leopoldino Mascarenhas, que naquela edilidade representa os homens de côr da “Manchester” paulista.
(Lê) “Requerimento n. 317-55 – Requeiro à Mesa, ouvido o Plenário, seja oficiado ao Exmo. Sr. deputado estadual Salgado Sobrinho no sentido de que este, na Assembléia Legislativa, lance um protesto contra o massacre ocorrido no Mississipi, Estados Unidos, com o menino negro, pelo simples fato de este dirigir um gracejo a uma senhorita branca. S/S. 20 de outubro de 1955. (a) Luiz Leopoldino Mascarenhas – Vereador”.
“Sorocaba, 26 de Outubro de 1955.
“Cumpre-me levar ao conhecimento de V. Exa. que este Legislativo em sua Sessão Ordinária realizada a 25 do corrente, aprovou o Requerimento n. 317-55, de autoria do Vereador Luiz Leopoldino Mascarenhas, cuja cópia, em seu inteiro teôr, anexo ao presente.
“Valho-me do ensejo para apresentar a V. Exa. os protestos de minha mais alta estima e distinta consideração.
“(a) Wenceslau Correa Lacerda – Presidente da Câmara”.
Pelo requerimento em aprêço, Sr. Presidente e Srs. deputados o edil sorocabano com a aprovação da Câmara Municipal deseja que façamos aqui um protesto veemente contra o bárbaro crime ocorrido no Mississipi, nos Estados Unidos, e do qual foi vítima um menino negro, pelo simples fato de ter dirigido um gracejo a uma senhorita branca.
Na verdade a ocorrência teve uma repercussão enorme, tanto assim que toda a imprensa brasileira publicou com relativo destaque a notícia do infamante crime cometido contra uma pobre criança, que sabe Deus com que se fazia acompanhar de dois cidadãos também brancos e de nacionalidade americana.
O fato foi levado aos tribunais, tendo sido os acusados absolvidos, o que motivou a revolta dos homens de côr dos Estados Unidos, que não se conformam com o desfecho da brutal ocorrência, principalmente quando a discriminação racial foi abolida naquele país.
Aos protestos e inconformações dos homens de côr dos Estados Unidos, unem-se os protestos de todos os homens de côr do mundo, o que justifica o requerimento do vereador sorocabano Luiz Leopoldino Mascarenhas.
Observado o fato pelo prisma humano é revoltante o crime cometido contra uma pobre e inocente criança, porém, muito mais se agrava ainda, quando o observamos pelo lado cristão, lembrando-nos da sábia premissa “AMAI-VOS UNS AOS OUTROS, COMO EU VOS AMEI A TODOS”!
Como defensor que sempre fui das legitimas liberdades e dos direitos alienáveis do homem, não tenho dúvida em lançar o protesto veemente da Câmara Municipal de Sorocaba, ao qual me solidarizo, condenando os Autores do brutal crime.
Era o que eu tinha a dizer.
Consta que Luiz Leopoldino era espírita kardecista, tendo feito parte da diretoria do Centro Espírita Irmão Ciríaco, na Vila Gabriel. Entre seus filhos está o Vadeco (Florisvaldo Roque Mascarenhas), que esteve à frente de escolas de samba como a “28 de Setembro” e a “Show Brasil”, esta última da Vila Santana.
Faleceu em 07 de abril de 1972, conforme publicação na seção Necrologia, do jornal Cruzeiro do Sul:
“SR. LUIS LEOPOLDINO MASCARENHAS – Aos 63 anos, faleceu o sr. Luis Leopoldino Mascarenhas, casado com a sra. Margarida Mascarenhas. Deixa os filhos: Osvaldo Roque[27], casado com Maria Paes; Luis Carlos, Maria Lucia e Neucinda, solteiros.
O seu sepultamento deu-se ontem, saindo o féretro da Rua Baltazar Fernandes, 294 para o cemitério da Saudade”.[28]
Luis Leopoldino Mascarenhas dá nome a uma rua no jardim Guadalajara, em Sorocaba. É também nome de praça “localizada entre os jardins Juliana e Ferreira ao lado da Escola Municipal de Vila Santana, nesta cidade”, de acordo com a lei municipal 3398 de 31 de agosto de 1992. Foi sepultado na quadra 04, sepultura nº 05 do Cemitério da Saudade de Sorocaba.
Palavras Chaves: Vereador; Frente Negra; Vila Santana; Ferroviários; Nome de Logradouros; Espiritismo kardecista; Sociedade Cultural, Recreativa e Beneficente “28 de Setembro”; Movimento negro; Juiz de Paz; Mississipi.
Florisvaldo Roque Mascarenhas – Sambista, carnavalesco, ferroviário e brincante de pernada. Conhecido por Vadeco ou Mestre Vadeco. Nascido em 16 de agosto de 1932; filho de Luiz Leopoldino Mascarenhas (Luiz Pequeno). Já na década de 1950 estava à frente de escolas de samba. Em 1956, aparece comandando a escola / cordão “Esporte Clube Brasil”, que, aparentemente, ensaiava no Clube “28 de Setembro”. É o que se depreende da nota publicada na imprensa local, assinada por Almeida & Moraes, na coluna Carnaval:
ESPORTE CLUBE BRASIL
Como havíamos noticiado, realisou-se na sede social da Sociedade Recreativa 28 de Setembro, um animado ensaio carnavalesco, sob a orientação técnica de Vadeco[29].
Há notícias de que antes, aos 10 anos de idade, ajudou seu pai, Luiz Leopoldino Mascarenhas, a fundar a Escola de Samba “28 de Setembro”[30]. Foi também fundador da União Sorocabana das Escolas de Samba (Uses), da qual foi o primeiro presidente. Ainda sobre o ano de 1956, quando fundou o cordão / escola de samba Esporte Clube Brasil, Vadeco mostrava a garra em realizar o carnaval com poucos recursos:
ESPORTE CLUBE BRASIL
Em palestras que mantivemos com o popular Vadeco, pudemos constatar, que o Brasil está em dia com o Carnaval, reservando grandiosa surpresa para este ano, que tudo indica será pra lá de bom. Fizemos diversas perguntas ao Vadeco, e entre outras coisas nos disse as dificuldades que vem encontrando para a organização do cordão, dificuldades essas que seriam sanadas com a boa vontade do comércio e indústria, principalmente na parte relacionada com as fantasias. Disse ainda, que se fosse possível conseguir de uma de nossas industrias, alguns metros de chita, estaria em parte solucionado o seu problema. Aqui, fica embora indiretamente, lançado o apelo de Vadeco. Creio que ele será atendido, uma vez que todos o conhecem. Seu trabalho no setor carnavalescos, não deixa nada a desejar, dependendo apenas de um pouco de cooperação.
Para o dia de amanhã, Vadeco vai dar início aos ensaios, chamando a atenção de todas as cabrochas, e a turma da escola. Bateria sentida, atenção, chora tamborim, fala surdo... em ação balisas... [...][31]
Na mocidade, consta que Vadeco brincava a pernada com outros frequentadores do Clube “28 de Setembro”, como o Zé Jaú e o Osório Mula. Em depoimento dado no dia 23 de fevereiro de 2004, o senhor José Marciano confirmou que presenciou a brincadeira da pernada com as pessoas acima citadas, incluindo o Vadeco. Em 14 de dezembro de 2003 o senhor José de Campos Lima (Zezinho Lima) também confirmou que Vadeco brincava de jogar pernada, sendo bom na “cabeçada”.
Inovou no carnaval de 1956, à frente do Esporte Clube Brasil, trazendo passistas e baliza da capital. Lazinha foi a baliza trazida naquele ano para abrilhantar o cordão e Arruda e Jaú II foram alguns dos passistas. Foi considerado na época como o “maior cordão de todos os carnavais de nossa cidade”[32].
O jornal Cruzeiro do Sul publicou um resumo da trajetória carnavalesca de Vadeco:
Vadeco, como é conhecido de todos, tem vinte e sete anos de carreira em escolas de samba e de carnaval sorocabano. Foi ele que em 1956 fundou a primeira escola – Escola de Samba Brasil – em Sorocaba. A escola, composta de trinta e dois figurantes, foi extinta logo em seguida por falta de recursos financeiros. Mas, Vadeco não desanimou. Foi em frente e, agora, com muito sucesso, fundou a escola de samba “28 de Setembro” que, após vencer oito carnavais consecutivos, foi extinta em 1975.
Depois de dois anos militando na Unidos do Pecado, do Tavinho, saiu para fundar a escola de samba “Show Brasil” que este ano está prometendo muito ao carnaval de Sorocaba, apesar de estar enfrentando os mesmos problemas das demais escolas – a falta de verbas[33].
Em 1978 fundou a Escola de Samba Show Brasil, da Vila Santana, com sede na rua Piratininga, 272[34]. Essa Escola foi campeã do carnaval de 1991 e vice-campeã no carnaval de 1992[35]. No carnaval de 1980, ensaiando às terças e quintas na rua Moreira Cabral, na Vila Santana, a escola de samba Show Brasil homenageou os tropeiros, “os bravos desbravadores de nossa terra”, nas palavras de Vadeco. A Escola tinha na época cerca de 300 componentes[36].
Em 1990, já adoentado, Vadeco desfilou de cadeira de rodas pela sua escola, emocionando o público que assistiu ao desfile[37].
Vadeco faleceu em 31 de agosto de 1993, vítima de insuficiência respiratória, broncopneumonia e insuficiência renal[38]. Tinha 61 anos, dos quais quase 40 dedicados ao carnaval sorocabano. Deixou os filhos Nilson, Nilton, Nilza e Nivaldo[39].
Foi sepultado no dia 1º de setembro, na quadra 04, sepultura 05, do Cemitério da Saudade, a mesma sepultura de seu pai Luiz Leopoldino Mascarenhas.
Vadeco não dedicou a sua vida a manter acesa e viva a manifestação cultural de, quiçá, maior expressão da cultura negra, qual seja, o carnaval. A manifestação que em si carrega os resquícios da história e da religiosidade do negro no Brasil, que expõe alegria e brilho e implicitamente, de forma bastante sutil, cumpre a obrigação de manter a memória da ancestralidade.
Palavras Chaves: Ferroviário; Carnaval; Escola de Samba; Cordão carnavalesco; pernada.
Ercílio Nazário – Festeiro de São João e folião de Santos Reis. Nascido em Avaré, interior de São Paulo, por volta de 1923. Consta ter residido em Ourinhos e em Valença (RJ), nesta última por volta de 1948. Teve contato com folias de Reis nessa época. Chegou a Sorocaba na década de 1960. Em 1964 começou a realizar uma tradicional festa a São João a qual promoveu até a sua morte. Na extensão da calçada de sua residência, na avenida Santos Dumont, nº 233, acendia uma fogueira, realizava terço e a troca da bandeira de São João (que permanecia no mastro durante todo o ano). Cerca de 50 (cinquenta) pessoas participavam dessa tradicional festa[40]. Infelizmente, pelo Decreto municipal 15615, de 17 de maio de 2007, esse imóvel foi considerado de utilidade pública, “a fim de ser desapropriado pela Prefeitura Municipal de Sorocaba, destinado a melhoria do sistema viário[41]”; impossibilitando a continuidade da festa de São João naquela localidade.
Desde o início da Companhia de Santos Reis de Vila Formosa (Folia de Reis de Sorocaba), Ercílio Nazário participou de todas as jornadas como apontador de prendas, ou seja, aquele que anotava as prendas e ofertas dadas para a Festa de Santos Reis. Era também devoto de Nossa Senhora Aparecida, participando da romaria de Aparecidinha, em Sorocaba, desde 1978. Em três oportunidades fez o percurso da romaria descalço e era agradecido por ter recebido a cura de dores na perna e nas costas.[42]
Faleceu em 04 de janeiro de 2007, poucos dias antes do término da jornada da Folia de Reis. A seção de necrologia do jornal Cruzeiro do Sul publicou:
ERCILIO NAZARIO - 84 anos, deixa os filhos Neusa, Elenice, Jacira, Edna, Emília, Jandira, Elisete, Mirian e Kelli. Sepultamento hoje, às 14h, saindo seu féretro da Ossel Central, para o cemitério da Consolação[43].
Homem simples e autêntico, Ercílio foi guardião de devoções populares, nunca usando desse fato para se promover. Foi um homem importante na preservação da memória cultural, sem que tivesse, em vida, o devido reconhecimento. Como muitos e muitos outros... Infelizmente.
Palavras Chaves: Folia de Reis; Festa de São João; Devoções populares.
Salerno das Neves – Nascido em Porto Feliz (SP) em 9 de agosto de 1874. Em muitos documentos aparece apenas como Salerno das Neves, mas em publicações de jornais mais antigas, dos primeiros anos do século XX seu nome figura como Salerno Augusto de Camargo Neves.[44] Filho de Domingos S. das Neves e Maria Francisca (ou Florinda) Camargo. Uma das principais lideranças negras de Sorocaba, especialmente nas décadas de 1920 e 1930. Aparecida Amaral Pires, a Vó Cida, descreve Salerno das Neves como um dos responsáveis pela festa de São Benedito em Sorocaba, bem como outras rezas e devoções dos negros sorocabanos realizadas na antiga igreja de Santo Antônio (ao lado do Mercado Municipal). Era considerado capelão por realizar as rezas em capelas da cidade. Parece ter pertencido ao Congado, pois em 1942 o sociólogo Florestan Fernandes o entrevistou para obter informações sobre os batuques e congados de Sorocaba. Casou-se em segundas núpcias, em Sorocaba, no dia 15 de abril de 1933 com Rosa Emília de Oliveira. Nessa época, Salerno era viúvo de Maria José das Neves.[45]
Salerno das Neves pertenceu à Irmandade de São Benedito, sendo uma de suas principais lideranças. Consta que em 1910 era mesário e secretário da Irmandade. Em 1911 ocorre um debate entre ele e José Albino Parreira referente a oposição deste último em relação a presença do primeiro na chapa da eleição da diretoria da mesma Irmandade.[46] Aparentemente, sua presença nessa Irmandade diminui à medida que começa a fazer parte da Frente Negra Brasileira, seção de Sorocaba. Praticamente, pode-se dizer que foi na noite de 23 de fevereiro de 1932, ocorreu a primeira reunião de organização da Frente Negra em Sorocaba, na casa de Benedito Antunes do Nascimento. Foi formado um Conselho Provisório, empossado no dia 12 de março, tendo como delegado geral Benedito Antunes do Nascimento, e como conselheiros Salerno das Neves, Olympio Castello Alves, Isaltino de Arruda, Luiz Correia de Moraes, Benedito de Andrade, Mariano Santanna, João Evangelista e Alfredo Monteiro. Em solenidade realizada no Palacete Scarpa, no dia 02 de abril de 1932, com a presença de Veiga dos Santos, Guaraná Santanna e Vicente Ferreira, vindos da capital, foi empossado o corpo diretor da Frente Negra de Sorocaba, composto da seguinte forma: Benedicto Aurélio Nascimento, delegado; Salerno das Neves, presidente; Benedicto Andrade, secretário; Alfredo Monteiro, tesoureiro; Olympio Castello Alves, orador; Benedicto Dias de Assumpção, Benedicto Barbosa, Aquilino Aarão Setúbal, João Evangelista, Olivio Lopes, Lucidio de Almeida, Virgilio Lopes, Isaltino de Arruda, Laerte Cearense, Benedicto Wenceslau Mendes, João Rosa de Oliveira, Eduardo Antonio de Moraes, Ataliba de Almeida, Emiliano Mendes, Luiz Correia de Moraes, Marianno Santanna, Luiz de Barros e José Thomaz Ribeiro, como conselheiros. Era estimado em 500 (quinhentos) o número de sócios da Frente Negra em Sorocaba, no dia da posse do conselho permanente. Além da comitiva da capital, representou a delegação de Porto Feliz o sargento Olympio Moreira da Silva[47].
Salerno das Neves foi, portanto, o primeiro presidente da Frente Negra em Sorocaba[48]. Em abril de 1935 era delegado especial da Frente Negra de Sorocaba, nomeado pelo Grande Conselho da Frente Negra Brasileira[49].
Foi ainda vice-presidente do Club Tiradentes em 1903 e secretário da Comissão Recreativa “13 de Maio” em 1908 e do Club 13 de Maio Sorocabano em 1909. Pertenceu, também, à Irmandade de São Miguel e Almas, sendo mesário da mesma em 1910[50].
Faleceu em 11 de julho de 1945, em Sorocaba. Foi sepultado no dia 12 no Cemitério da Saudade, onde está inumado na sepultura 131 da quadra 24.
Palavras Chaves: Frente Negra; Irmandade de São Benedito; Catolicismo; Congada; Devoções Populares; Movimento Negro Organizado.
Lázaro Lopes de Oliveira – Mestre Lazinho. Nascido em 1922, foi carnavalesco, presidente e mestre de bateria de escola de samba. Em 1954, nas comemorações dos 300 anos de Sorocaba, Lazinho fundou, juntamente com Augusto André Ferreira (o Gustão), a Escola de Samba III Centenário. Atribui-se ao sambista Joaquim da Silva o nome de batismo da escola[51].
A escola chegou a sofrer perseguições ainda na década de 1950, quando seus ensaios eram reprimidos pela policia. A escola contava com uma cadência própria, presença forte do batuque, sob a direção do apito de Lazinho. Luiz Gonzaga Rodrigues, o Luizão, da Escola de Samba Unidos do Cativeiro, lembra que começou a participar do carnaval sorocabano na escola III Centenário e destaca a seriedade com que mestre Lazinho conduzia os trabalhos. Foi com ele que Luizão aprendeu muito sobre o carnaval. Destaca ainda que os passistas da escola usavam os movimentos da pernada para fazer as evoluções na avenida. Havia, portanto, uma ala de passistas com movimentos coreográficos tirados do jogo da pernada, espécie de capoeira. Nenê da Vila Matilde comentava também sobre os passistas jogadores de pernada (ou tiririca) nas escolas de São Paulo. Pouco tempo depois de 1973, segundo Luizão, a escola III Centenário apresentou uma ala de capoeiristas[52].
Na década de 1970 ganhou o título de “Apito de Ouro” do carnaval sorocabano, dado a maestria com que conduzia a bateria da sua escola de samba. Ganhou duas vezes o carnaval sorocabano a frente da Escola III Centenário.
Ao comentar sobre mestre Lazinho, o também carnavalesco Vadeco disse: “Ele era um baluarte do Carnaval. Dava forças imensas para o carnaval de Sorocaba[53]”. Geraldo Bonadio complementou, afirmando que Lazinho era profundo conhecedor dos segredos de estruturação de uma bateria e a cadência de uma escola de samba.
Em 1980, Lázaro Lopes de Oliveira comentava nos jornais sobre as dificuldades financeiras das escolas de samba. A escola III Centenário, por exemplo, contava na época com 418 componentes, mas somente 300 iriam desfilar por falta de verbas para as fantasias. Sobre isso, Lazinho comentou: “não sabe como é triste ensaiar o ano inteiro e ficar de fora, como jogador contundido em dia de decisão”[54]
Na época de sua morte, em 1986, o jornal Diário de Sorocaba publicou um editorial, na coluna Nossa Opinião, homenageando o mestre Lazinho, enaltecendo o seu caráter, mas, também, evidenciando a qualidade do samba de sua escola, escorada nas origens dos antepassados e da tradicional cultura negra, ou seja, um samba com raiz:
Um carnavalesco autêntico
No final de semana, a cidade perdeu uma de suas mais queridas e tradicionais figuras. Referimo-nos ao Sr. Lázaro Lopes de Oliveira, que popularmente era conhecido como mestre Lazinho. Na simplicidade e na modéstia de sua vida, mestre Lazinho há muitos e muitos anos produzia alegria para a nossa cidade, na medida em que conduzia, com entusiasmo e alegria pura, a sua Escola de Samba III Centenário.
A Escola, que surgiu no ano de 1954, tinha características bem definidas, identificadas com as origens populares do samba. Nunca fez concessões ao que era novidade, conservando, contudo, a pureza de seu ritmo e, com isto, produzindo um espetáculo coreográfico muito bonito de se ver e que, por todos os títulos, sempre foi muito valorizado e aplaudido pelos que ao longo dos anos viram-no ora na rua de São Bento, ora na avenida JK e mais recentemente na avenida Dr. Afonso Vergueiro.
Se de um lado é de se registrar que na Escola de Samba III Centenário deixou sua marca impressa, como entidade produtora de ritmos e de alegria, o certo também é que ela tinha o seu elemento forte no batuque, sob a cadência e a direção de ritmo do mestre Lazinho. A sua bateria criou fama, deu forma ao samba em nossa cidade e, no silvo do apito do mestre Lazinho, dançavam não apenas os integrantes da Escola, como e também havia, na assistência, uma eletrizante solidariedade compassada. A Escola mexia com tudo e com todos, realizando-se assim, o sonho de um carnavalesco autêntico, o mestre Lazinho.
Lázaro Lopes de Oliveira deixa um exemplo. Exemplo de um homem simples. Um homem que, na escola da vida, aprendeu a grande lição da humildade. Tinha entusiasmo pelo Carnaval e jamais deixou de reivindicar aquilo que não tivesse direito [sic]. Nunca pensou em si. Sempre pensou na sua Escola e nos compromissos que ela tinha para com o Carnaval. Ela destacou-se ao longo de sua vida, justamente por isto, por ser um homem autenticamente simples, cuja alegria maior era produzir a alegria para o nosso povo.
Os festejos populares que o Carnaval de Rua ofereceram à comunidade ao longo de todos esses anos muito ficam a dever a essa figura simples e muito humana que foi Lázaro Lopes de Oliveira, a quem certamente a Prefeitura irá homenagear com a denominação de uma via pública, por ser ato de inteira justiça[55].
Lazinho dedicou-se de corpo e alma à sua escola de samba. Tanto que seu filho José Carlos Lopes de Oliveira dizia que tudo, relacionado à escola, passava pelas mãos dele. Maria José Lima, a Mazé, complementava dizendo: “Mestre Lazinho era a própria escola III Centenário[56]”.
Em 1972, Lazinho aparece nos jornais como apitador de “entusiástico batuque do João de Camargo”, durante uma disputa de futebol entre os times Black Power e E. C. João de Camargo:
Black Power – Auto Moura homenageiam torcida feminina do João de Camargo.
NO PRÓXIMO dia 19, domingo, a equipe de futebol do Black Power, estará voltando aos gramados depois de uma paralização de um ano. E na volta, jogarão contra o E. C. João de Camargo, atendendo convite especial. Miroldo e Biscoito, estão muito contentes, pois são os comunicadores da massa colored, e pretendem montar uma grande potência em matéria de futebol. Os dirigentes estão eufóricos e prometem uma guerra entre as torcidas femininas, já que ambas tem grande número de admiradores. A outra atração da partida, será o entusiástico batuque do João de Camargo, que será comandado pelo famoso apitador Lazinho, que já está prometendo sons sensacionais. A direção do Black Power comunica que fará somente esta exibição na cidade de Sorocaba. As demais partidas dos coloreds serão apenas em cidades vizinhas.[57]
Lázaro Lopes de Oliveira faleceu no dia 23 de agosto de 1986, às 4 horas da madrugada, no Hospital Santa Lucinda, vítima de um ataque cardíaco. O jornal Cruzeiro do Sul noticiou na primeira página do exemplar do dia 24:
O apito de ouro ficou mudo
64 anos, a maior parte dedicada ao Carnaval, morreu ontem Lázaro Lopes de Oliveira, o mestre Lazinho, apito de ouro das avenidas, cabeça e alma da Escola de Samba III Centenário. E, com ele, o Carnaval sorocabano perde uma de suas figuras mais importantes.
O jornal Diário de Sorocaba também noticiou o fato:
O samba está de luto: morre o mestre Lazinho
O samba sorocabano está triste: morreu ontem, aos 64 anos de idade, Lázaro Lopes de Oliveira, o mestre Lazinho, presidente da Escola de Samba III Centenário e um dos mais apaixonados foliões do carnaval sorocabano. Lazinho sempre personificou a própria imagem do carnaval: alegre, expansivo, vibrante e cheio de raça. Duas vezes campeão do carnaval sorocabano, com a III Centenário, era considerado o “apito de ouro” pela maestria com que fazia samba no apito, conduzindo sua escola na avenida. Organizou e dirigiu uma das melhores baterias que o carnaval de Sorocaba já conheceu. Dedicou quase toda sua vida ao samba, ao carnaval de rua e à III Centenário. Sem Lazinho, nosso carnaval não será mais o mesmo[58].
Lázaro Lopes de Oliveira empresta seu nome a uma rua do Jardim Santa Cecília em Sorocaba. Seu legado de uma vida dedicada ao carnaval demonstra, sobretudo, a gana por manter viva a tradição cultural negra e as dificuldades de quem se dedica a tal empreitada. Assim como Vadeco, mestre Lazinho trouxe para si a responsabilidade de passar para as futuras gerações aquilo que recebera dos antepassados. São seres humanos dessa envergadura que fazem muita falta hoje em dia. Foi homenageado por Benedito Aleixo com uma poesia intitulada Ao Mestre com carinho..., na qual dizia: “Mestre Lazinho comandava a bateria / Com seu apito de ouro, feito maestro / Oh! que saudades, carnaval era alegria / Esta homenagem com carinho eu lhe presto...”.[59]
Mestre Lazinho está sepultado no túmulo da quadra 23, sepultura 391 do cemitério da Saudade, em Sorocaba. Era casado com Maria Aparecida de Oliveira. Deixou os filhos Antonio, José Carlos (Zuza) e Conceição[60]
Palavras Chaves: Carnaval; Escola de Samba; Pernada; Nome de logradouro; Capoeira.
Ondina Seabra – Professora e militante da Frente Negra. Nasceu em Sorocaba, no dia 1º de julho de 1921, numa antiga casa da Rua Padre Luiz, próximo à esquina da Rua de Penha. Seus pais eram João Seabra e Martha Vianna Seabra[61].
Segundo a pesquisadora professora Ana Maria de Souza Mendes, “O pai faleceu quando ela contava apenas um ano de idade. A corajosa Martha, sua mãe, passou a viver com os três filhos Oswaldina, Euclides e Ondina, mantendo-os com o dinheiro que auferia nas bordas dos fogões a lenha ou nos tanques das casas dos patrões. As irmãs de Dona Martha também moravam na mesma casa”.
Estudou no Grupo Escolar Antonio Padilha, tradicional escola sorocabana, e o Curso Fundamental da Escola Normal Municipal de Sorocaba (equivalente ao Ginásio).
Ainda menina, aos 13 anos, já participava de atividades da Frente Negra de Sorocaba, como se verifica na notícia publicada no jornal Cruzeiro do Sul em 1934:
13 de Maio
Domingo à noite, na Frente Negra Brasileira, á rua Monsenhor Soares, em sessão cívica, festejou-se a data da abolição. Ás 20hs. deu início ao festival o Sr. João Maria Camargo, que leu bello discurso histórico. Ao terminar, o orador foi vivamente applaudido. Em seguida falaram os srs. Cantidio Castello Alves e Luiz Marcolino, 1º secretário, que recitou o poema de sua lavra “Pai Thomaz”, que alcançou êxito. O Sr. Olympio Castello Alves, delegado da Frente, foi quem abriu a sessão. Falou também o Sr. Salerno Neves, presidente da Frente local, e, finalizando a série de orações, falou o nosso representante, ouvindo-se depois o hymno frentenegrino cantado por todos os presentes. Houve recitativos pelas senhs. Maria José Monteiro, Maria José Assumpção, Ondina Seabra e Maria Almeida Lima.
Estavam presentes familiares dos frentenegrinos, e grande foi a alegria de todos que prestaram homenagem á data de 13 de Maio, demonstrando a solidariedade entre os homens de cor[62].
Para Ana Maria de Souza Mendes, a menina Ondina Seabra participava das atividades da Frente Negra desde o início desta em Sorocaba. “Conheceu, com apenas dez anos de idade, mais importante movimento associativo fundado por negros, após a abolição da escravatura, a Frente Negra Brasileira. Com a mãe, os irmãos, e as tias frequentava o Núcleo do movimento articulado em Sorocaba. É desse tempo sua profunda conscientização no que se refere às relações interétnicas”.
Ondina Seabra diplomou-se professora na Escola Normal de Sorocaba, no dia 27 de dezembro de 1941. No ano seguinte, iniciou sua carreira de magistério em escolas rurais, efetivando-se em 1949 na Escola Isolada do Distrito de Tessaindá, no município de Martinópolis, na região da Alta Sorocabana.
Em 1952 transferiu-se, por processo de remoção, Escola Isolada do Bairro de Santa Helena, em Votorantim, então Distrito de Sorocaba. Em 1960 foi removida para o Grupo Escolar Comendador Pereira Ignácio e dois anos depois começou a exercer a função de Auxiliar de Delegacia de Ensino e, posteriormente, a de Secretária da Delegacia de Ensino de Sorocaba. Aposentou-se em 1980, depois de 38 anos de dedicação à Educação.
Atualmente é consultora técnica do NUCAB, Núcleo de Cultura Afrobrasileira da UNISO e uma das instituidoras da Fundação Cafuné, que auxilia e ampara estudantes universitários carentes. Foi agraciada, pela Câmara Municipal de Sorocaba, com o título de Cidadã Emérita e desde 2006 pertence ao Rotary Club Sorocaba.
Palavras chaves: Educação; Educadora; NUCAB; Rotary Club; Cidadania Emérita; Fundação Cafuné; Frente Negra.
Josias Alves – Nascido em Maristela (na época pertencente a Laranjal Paulista) em 29 de junho de 1946.[63] Conhecido por Chiu, era neto de escravos e seu avô, o senhor Roque Alves de Lima, ensinou-lhe danças de origem africana e, também, a capoeira. O senhor Roque trabalhou numa fazenda (que hoje é a Fazenda Santo Antonio, da família Lulia) em Maristela, região de Laranjal Paulista.
Por volta de 1958, com doze anos de idade, o senhor Josias mudou-se para Sorocaba. Aqui, segundo seu relato, praticava capoeira no clube “28 de setembro”, ainda que de informalmente. Praticou a capoeira, naquele clube, até o início da década de 1970. Eram mais ou menos quinze pessoas que praticavam a capoeira no clube 28, nos anos de 1958 a meados de 1960. Esse número diminuiu com o passar dos anos até o fim dessa prática na década de 1970. Chiu relatava que procuravam cantar e tocar instrumentos em tom baixo, pois ainda havia perseguições em relação a essa prática. Em consonância com os relatos do senhor José Marciano, pode ser que a capoeira descrita por Josias Alves seja a mesma pernada, pois é sobre essa mesma época que se reporta ao seu depoimento.
Posteriormente, final da década de 1960 e início da de 1970, esse grupo chegou a jogar capoeira na Praça Cel. Fernando Prestes, no centro de Sorocaba. Dali, segundo relato do Chiu, surgiu a ideia de fundar a Escola de Samba São Felipe, da Vila Carvalho.
Trabalhou como metalúrgico em indústrias de Sorocaba, como a Siderúrgica Jimenez. Residiu na rua Oscar Pedroso Horta, no Jardim Hungarês.
Chiu participou de apresentações de danças afrobrasileiras e do carnaval sorocabano. Faleceu em 13 de outubro de 2003, sendo sepultado no Cemitério da Consolação, em Sorocaba, na sepultura 07, quadra 12 – A, conforme pesquisa de Aparecido Modesto de Oliveira e publicação no jornal Cruzeiro do Sul:
NECROLOGIA
[...]
JOSIAS ALVES – 57 anos, casado com Maria Alice Dias Alves. Deixa os filhos Alexandre, Lenilde, Andrelino, Andréia e Alessandra. Sepultamento ontem, no Cemitério da Consolação.[64]
Josias Alves manteve viva a cultura ancestral que recebeu quando ainda criança, em Maristela, reelaborando-a em outro ambiente, na cidade de Sorocaba, sem que, contudo, perdesse a essência que a responsabilidade da transmissão para outras gerações exige.
Palavras chaves – Capoeira, Metalúrgico, Carnaval, Escola de Samba São Felipe, Clube 28 de Setembro, Maristela.
Francisco Dimas de Mello – Músico e Maestro regente de banda. A inclusão do nome deste maestro nesta coleção de biografias de afrodescendentes foi bastante controversa. Havia muitos indícios da afrodescendência de Dimas de Mello, como a sua participação na Irmandade de São Benedito, nas promoções da Frente Negra, junto ao João de Camargo... Havia, também, o testemunho de Rosali Alves, diretora cultural do Gabinete de Leitura Sorocabano, que afirmara ser Dimas de Mello “mulato”. Por outro lado, um relato disponível na internet dava conta de que o maestro era descendente de índios. Eloísa Camargo Dias, que viveu boa parte de sua vida na Vila Amélia, local onde se encontra a sede da Banda Musical Dimas de Mello, disse, em mensagem enviada por e-mail, que “Quando morei vizinha a essa sede, os comentários entre os músicos é que Dimas de Mello era afrodescendente”, mas que não tinha certeza sobre a procedência dessa informação. A pesquisadora Ana Maria de Souza Mendes, também atendendo aos meus apelos, procurou a resposta com a professora Ondina Seabra, a qual respondeu: “Ah, quem deu nome à banda? Branco. Ele morava naquelas casas altas, na Vila Amélia, perto da casa de Joana. Quando a banda foi formada, a sede era na casa que acho que era dele. Depois foi na Rua Boa Vista de Cima e mais tarde voltou lá para a Vila Amélia". Bem, estava resolvida a questão. Francisco Dimas de Mello era branco e, por isso, não iria ser incluído nesta série de biografias, por não se encaixar no escopo. No entanto, a mesma pergunta eu havia feito ao pesquisador José Carlos Malzoni especialista em pesquisa genealógica e profundo conhecedor da história de Sorocaba. No dia 04 de maio de 2012, num encontro que tivemos no Gabinete de Leitura Sorocabano, Malzoni apresentou-me a pesquisa genealógica que realizara sobre Francisco Dimas de Mello. Pelos resultados de sua pesquisa, Malzoni encontrou Salvador Pedro de Mello e Francisca de Paula, avós de Francisco Dimas de Mello, casados em 17 de fevereiro de 1811, em Sorocaba, com anotação no registro de que eram “pardos forros”. José Carlos Malzoni, então, respondeu que como ambos estavam citados como pardos forros isso significava que haviam sido escravos e, portanto, descendentes de negros / afrodescendentes. Por esse motivo, e até que haja outra prova em contrário, o nome de Francisco Dimas de Mello passa a constar neste livro. Como os avós de Dimas de Mello eram “pardos”, é possível que a tonalidade de sua pele fosse clara, o que justificaria a assertiva da professora Ondina Seabra, ao afirmar que o mesmo era branco.
Nascido em 24 de maio de 1883 em Sorocaba, foi batizado no dia 04 de julho de 1883, segundo pesquisa genealógica de José Carlos Malzoni. Oitavo filho (de uma prole de nove) do também maestro e alfaiate Pedro Rodrigues de Mello (ou Melo) e Frutuosa da Rocha Pinho. Segundo Aluísio de Almeida, “Francisco Dimas de Melo foi maestro desde a juventude até morrer e a banda Santa Cecília a que se dedicou, leva hoje o seu nome. Operário pintor, a sua morte se seguiu a uma queda de escada, em pleno trabalho, na Santa Casa. Estudava piano nos últimos anos, porque na juventude não pôde adquirir um instrumento” (ALMEIDA, 1969, p. 21).
Fundou a Banda Musical Santa Cecília em 28 de julho de 1914, conforme se depreende de notícia publicada no jornal Cruzeiro do Sul em 1934:
Banda S. Cecília
A banda musical S. Cecília assignalou, no sabbado, o seu 20º anniversário, realizando, á noite, concorrida reunião dansante, em sua sede, á rua Itararé, 139. Nessa opportunidade usaram a palavra, congratulando-se pelo facto, os srs. Antonio Salgado, componente da banda, e Ignácio L. Rocha, nosso representante. A alegre e bem organizada festa alcançou altas horas, realçando-a a banda anniversariante. A C. M. S. Cecília, que é conjunto musical bem cuidado e sympathico á nossa população, tem como fundadores os srs. Francisco Dimas de Mello, ainda seu maestro; Pedro Mello Pacheco, que presidiu á reunião de fundação; Antonio Salgado, secretario; Manuel Dias, Francisco Firmo, João Pinho, Marcílio Mascarenhas, Elisiário Albuquerque Silva, Jesuíno Rogich, Alighieri Sargenti, Francisco Paulo Lombardo, Carmino Lombardo e João Cruz Prestes. Tem como esforçado director o sr. Raphael Juliano[65].
O pai de Francisco Dimas de Mello, o maestro Pedro Rodrigues de Mello, foi o fundador da Banda 7 de Setembro, iniciada com sete músicos, mas que chegou a ter 36 componentes (ALMEIDA, 1969, p. 20).
Dimas de Mello foi citado na peça teatral de Fernando Lomardo e Sônia Castro, O Solitário da Água Vermelha, como tendo auxiliado João de Camargo a constituir e a reger a Banda São Luiz.
Francisco Dimas de Mello era pintor de paredes e sofreu um acidente grave ao cair de uma escada quando pintava uma dependência da Santa Casa de Sorocaba, conforme atestou a publicação do jornal Cruzeiro do Sul:
Cahiu da escada
A polícia tomou conhecimento de um grave accidente occorrido hontem ás 10 hs., na Santa Casa, e de que foi vítima o maestro Francisco Dimas de Mello. Quando o mesmo estava a pintar uma dependência daquelle hospital, aconteceu perder o equilíbrio, cahindo ao solo. Em consequência, Francisco recebeu ferimentos generalizados pelo corpo, além de ter fracturado a base do craneo. Por determinação do major Abilio Soares, Francisco acha-se internado naquelle hospital, sendo o seu estado considerado lisonjeiro.[66]
Francisco Dimas de Mello não resistiu aos ferimentos dessa queda, falecendo às 1h15 da madrugada de 31 de agosto de 1936. Tinha 53 anos de idade e residia na rua Itararé, nº 194, onde seu corpo foi velado.
Um artigo, assinado por IGNATIUS, publicado alguns dias depois, descreveu a importância e a trajetória de vida de Francisco Dimas de Mello:
Quem porventura não conheceu em nossa cidade esse veterano músico e maestro sorocabano que a morte trahiçoeiramente veio a pouco roubar prematuramente ao convívio de todos nós, por intermédio de um accidente inesperado e quase estúpido, de que se prevaleceu o destino para cercear-lhe o fio da existência, e interromper lhe a modesta mas brilhante carreira artística?
Ninguém por certo, pois que o saudoso finado, mercê da sympathia que parecia irradiar-se naturalmente da sua pessoa e do sentimento de admiração que sabia inspirar a todos que tinham ensejo de o conhecer, era pessoa conhecida, relacionada e bemquista em Sorocaba.
Tendo herdado do seu pae o decidido pendor para a sublime arte que imortalisou Carlos Gomes e Verdi, Francisco Dimas de Mello, apesar de não possuir a cultura profissional que nunca lhe permittiu adquirir a sua modesta condição econômica, sempre foi, no entretanto, um musico na verdadeira accepção da palavra, isto é, um musico que sacrificou a melhor e maior parte de sua vida, á missão de despertar e diffundir entre numerosos amigos e alumnos, o gosto pronunciado pelo difficil estudo dos sons e das melodias musicaes.
Antigo regente da banda local, Sta. Cecília, a essa corporação dedicou Francisco Dimas de Mello o melhor dos seus abnegados esforços, podendo ser apontado como um dos factores decisivos do conceito e renome de que actual e justamente gosa entre nós essa apreciada aggremiação.
Estimadissimo, por todos quantos fazem parte da banda Sta. Cecília, e também por aquelles que estavam habituados a vel-o de batuta em punho, á frente dessa corporação, nas suas audições no coreto da nossa praça principal, ou por occasião das festividades religiosas e profanas levadas a effeito em nossa cidade, o passamento prematuro do bondoso maestro veio porisso mesmo encher de justificada consternação a alma sensível do grande círculo de amigos e admiradores com que contava entre nós.
Prova disso foi o elevadíssimo numero de pessoas de todas as castas sociaes, que compareceu aos funeraes do maestro Dimas de Mello, rendendo lhe, dessa fórma, a homenagem commovente do seu sincero tributo de respeito e de estima.
Maestro Dimas de Mello!
Nós que particularmente vos conhecemos e vos admiramos, em vida, associamo-nos de coração aos testemunhos de amisade posthuma que, num nobre gesto de justiça humana vos prestaram os vossos amigos e num nobre gesto de justiça humana vos prestaram os vossos amigos e companheiros de luctas, depositando, sobre a campa que vos guarda os despojos mortaes, uma corôa tecida com as flores roxas da nossa imperecível saudade, e com as lagrimas sinceras do sentimento de estima que em todos os tempos nos inspirasteis como musico de incontestável valor, como chefe de família exemplar, como cidadão cuja vida foi um exemplo perenne de virtudes Moraes e de devotamento á “divina arte”, de que foi um verdadeiro apostolo em nossa cidade. IGNATIUS.[67]
Em 1941, as Bandas Santa Cecília e Santa Rosália uniram-se formando a Corporação Musical Francisco Dimas de Mello, em atividade até os dias de hoje. A data oficial de fundação dessa corporação é 11 de março de 1941 e sua sede é na rua Coronel José Prestes, nº 138, Vila Amélia, Sorocaba. Em 14 de novembro de 1962, a Corporação Musical Francisco Dimas de Mello foi beneficiada com auxílio municipal para sua manutenção, de acordo com a Lei municipal 1014/62.
Francisco Dimas de Mello empresta seu nome para denominar uma rua na vila Independência, região central de Sorocaba.
Palavras-chaves: Nome de rua, Música, Bandas, João de Camargo, Ascendência africana, Escravidão.
Papapá ou Bababá – Tipo popular amplamente citado em livros e crônicas. Em carta enviada ao escritor Vicente Caputti Sobrinho, assinada apenas por Cantília, a missivista o descreve da seguinte maneira: “O ‘Pá-pá-pá’, coitado, preto, grandalhão, feio e mudo. O pá-pá-pá, era o seu modo de se comunicar para pedir esmolas. Diziam que ele vinha de outra cidade, para esmolar aqui”.
O Papapá – também conhecido por Bababá – era um negro forte que perambulava pelas ruas pedindo esmolas com um porrete e pronunciando: Bababá, a única palavra que conseguia falar. Isso na década de 1960. Andava descalço e com um saco de estopa nas costas. O Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba (Rua Rui Barbosa, nº 84) possui em seu acervo uma foto desse personagem.
O poeta Benedito Aleixo o descreveu como tendo “dois metros de altura” e que “a sua fala para nós era um grunhido” [68].
Segundo a referida foto do acervo do IHGGS, anotada com a inconfundível letra de Waldemar Iglésias Fernandes, em seu verso, consta que Papapá faleceu na década de 1960.
O documentarista Tiago Augusto da Cruz Mazzon, em contato por meio de mensagem de correio eletrônico (e-mail), informou sobre a existência de uma lenda acerca do Bababá e o Barão de Monte Carmelo (Manoel da Silva Batista[69]): “O Barão (suas terras foram provavelmente doadas à Prefeitura, que incorporaram o bairro chamado Vila Barão) precisou enterrar um baú em um terreno na sua propriedade. Para isso, ele se utilizou dos serviços de um escravo do qual era Senhor. Após ter enterrado em um local apropriado, para evitar que o seu segredo vazasse para fora de seu círculo, ele tomou providências bastante cruéis. Entre elas, cortou a língua do tal escravo. A partir de então, ele nunca mais conseguiu falar apropriadamente, tornando conhecido como o "Ba-ba-ba" ou "Pa-pa-pa" por seu jeito de falar”.[70]
Tiago Mazzon estava produzindo um filme de curta metragem, tratando desse assunto, como resultado de uma Oficina de Audiovisual realizada na Oficina Cultural Grande Otelo, pela Secretaria de Cultura do Governo do Estado de São Paulo. Não se tem notícia, do conhecimento deste autor, de outra fonte que corrobore tal lenda. Parece que é somente fruto da imaginação popular.
Palavras-chaves: Tipo popular, escravidão, Barão de Monte Alegre, Lendas.
Roque Loureiro Marcolino – Famoso vendedor de amendoim ambulante. Foi citado no livro Minha Terra, Minha Gente, de Caputti Sobrinho e Folclore em Sorocaba, de Carlos Carvalho Cavalheiro. Nasceu em Sorocaba, no dia 1º de abril de 1922. Estudou na escola Antonio Padilha, sendo aluno do professor Aristides de Campos. Residia na Vila Carvalho e trabalhou para o Nhonhô Prestes e para o Quinzinho de Barros. Foi também oleiro da Olaria dos Irmãos Sola. Por volta de 1969, depois de aposentado, começou a vender amendoim torrado como ambulante.
Em outubro de 1998 o autor deste livro encontrou-o na rua Varnhagem, centro de Sorocaba. Respondeu às perguntas com poucas palavras. Quando perguntado sobre o fato de ser pessoa conhecida em Sorocaba, atribuiu esse fato à sua profissão de “mascate ambulante”.
Realmente era comum vê-lo pelo centro da cidade com enorme capa surrada, cesto com amendoins num braço e chapéu na cabeça. Foi fotografado diversas vezes. Uma dessas vezes pelo fotógrafo Teófilo Negrão, que expõe essa foto na parede de seu estúdio, na rua da Penha. Foi outra personalidade homenageada por Benedito Aleixo no seu já citado livro Celebridades I, com a poesia Um agrado em que diz, em alguns versos:
Lá vem... o homem,
com a cesta nas costas,
fazendo propostas,
vendendo amendoim...
Oferecendo pra moça,
dando-lhe um agrado,
está bem torrado,
também está no fim...
Lá vem... o homem,
de pele negra,
com a capa preta,
da cor do nanquim...
Lá vem... o homem,
com o rosto suado,
desviando do fiado,
vendendo pra mim...
Faleceu no início dos anos 2000, em Sorocaba[71].
Palavras-chaves: Tipo popular, Oleiro, Olaria Sola, Vendedor de Amendoim, Mascate ambulante, Vila Carvalho.
André Cantídio – Ou André Cantídio Ferreira, conforme se apresentou em entrevista realizada publicada no jornal cultural Folha da Cidade em dezembro de 1993. Nasceu em Laranjal Paulista, segundo o seu neto Milton Tadeu Cantídio, no dia 08 de setembro de 1913. Era filho de João André e de Isabel Fabiana, portanto, irmão de Thereza Henriqueta Marciano. Ferroviário da “Sorocabana”, era morador do Jardim Marco Antônio desde 1951 e considerava-se o “fundador do bairro”, por ter sido o primeiro morador do local. O Jardim Marco Antônio é conhecido pela aglomeração de negros naquele local. Segundo relatos orais, os ferroviários negros que iam chegando a Sorocaba acabavam adquirindo lotes por ali.
Foi cantador de cururu, cantando em Sorocaba, Cerquilho, Tietê e outras cidades. Dançava, também, a Umbigada, comum no passado na região do Médio Tietê, sobretudo em Capivari, Tietê, Sorocaba, Porto Feliz. Por volta de 1972 ou 73 promoveu um encontro de Umbigada em Sorocaba, na rua Joaquim Nabuco, com representantes da cidade de Capivari, Laranjal Paulista e Tietê.
Era devoto de Nossa Senhora Aparecida e por mais de 50 anos acompanhava a romaria de retorno da imagem da Santa à Igreja do bairro de Aparecidinha, em julho.
Jogava malha e bocha, promovendo e participando de campeonatos no bairro em que residia.
Faleceu em 23 de junho de 1994, sendo sepultado no Cemitério da Consolação, em Sorocaba. Era casado com Maria Eliza Cantídio.
Palavras-chaves: Umbigada, Jardim Marco Antônio, Devoção religiosa, Cururu, Médio Tietê.
Agenor Correa Natel (“Compadre”) – Conhecido vendedor ambulante de amendoim torrado e paçoca nas décadas de 1950 a 1970, tinha as alcunhas de “Compadre” ou “Tio”. Nasceu em Tietê no mês de junho de 1897 ou 99. Dizia não guardar muito a data do nascimento e que nunca comemorara o próprio aniversário.Não frequentou escola por falta de oportunidades e disso sempre comentava: “Vou morrer assinando com a marca do dedão. Mas uma coisa eu digo: quem tiver jeito e oportunidade, que aprenda a ler e a escrever”.
Em Tietê trabalhou na lavoura como empregado em fazendas. Na Fazenda Amélia Mariana conheceu Maria Queiroz Silveira, com quem se casou em 1921. Teve dez filhos. Não sabia precisar quando, mas passados alguns anos mudou-se com a família para a capital paulista. Vivendo em Osasco, sua esposa teve pneumonia em decorrência de friagem e acabou falecendo. Desgostoso, Agenor Natel mudou-se para Cerquilho, trabalhando na fazenda de Jorge Braulio. Por volta de 1951 chegou a Sorocaba. Casou-se em segundas núpcias com Ana Aparecida Cândida. Inicialmente, foi morar na rua da Bica (atual Voluntários de Sorocaba), atrás do Fórum Velho. Nessa época começou a vender amendoim que ele mesmo torrava e paçoquinha feita pela esposa. Ana Cândida também fazia tapetes de retalhos que seu marido vendia como ambulante. De cesto na mão, repleto de paçocas e amendoins torrados, além dos tapetes, Agenor ficava na esquina da Praça Cel. Fernando Prestes com a rua São Bento vendendo tais produtos.
Morou ainda na Vila Carvalho (Rua Rubino de Oliveira) e, por volta de 1957, estava residindo na rua Guaicurus, nº 26, na Vila Leão, onde ficou até o fins de seus dias. Por isso, Benedito Aleixo o descreveu como sendo da Vila Leão.[72]
Faleceu em 11 de abril de 1977 e foi sepultado no dia seguinte no Cemitério da Saudade. O jornal Diário de Sorocaba assim anunciou o seu falecimento:
Faleceu o velho vendedor de amendoim
Muita gente o conhecia pelo apelido de “Tio”. Outros como o “Compadre”. Poucos, no entanto, sabiam o seu nome: Agenor Natel, o preto velho que há muitos anos vendia amendoins ali na esquina da rua São Bento com a praça Cel. Fernando Prestes. Esse velho tieteense, o “preto de alma branca”, morreu ontem, por volta das 13 horas, aos 78 anos de idade, vitimado por problemas cardíacos. Seu corpo está sendo velado na Ofebas, de onde o féretro sairá às 16 horas, para o Cemitério da Saudade.
Dentro de sua simpatia e simplicidade, mais do que “os amendoins e as passoquinhas” preparadas pela esposa, ele, em toda a sua vida deu preciosas lições de humildade e soube, com seu jeito simples, ser amigo de todos. Todos o queriam bem. Presença constante, enriquecia de amor e simpatia a noite sorocabana. Paz a sua alma boa e simples. Foi um exemplo de trabalho e de dignidade.[73]
A despeito das expressões preconceituosas (como “negro de alma branca”) contidas no texto, fica claro o respeito que a cidade depositava na figura do humilde trabalhador que, por falta de oportunidade, não pôde estudar e, com isso, alcançar uma vida com mais recursos. “Se eu tivesse leitura, não estava nesta idade vendendo amendoim e passoquinha, debaixo do sereno, e nem assinava papéis com a marca do dedão”, declarou a um repórter do Diário de Sorocaba.[74]
O jornal Cruzeiro do Sul, por sua vez, também registrou a morte do “Compadre”:
“Compadre” morreu. Aquele do amendoim.
Hoje Sorocaba não vai mais ver aquela figura folclórica que vendia amendoim e paçoca na rua de São Bento.
No sábado à noite ainda vendia seus amendoins com a mesma simplicidade que sempre o caracterizou.
Agenor Correia Natel, popularmente conhecido como “Compadre”, faleceu ontem às 13 hs. no Hospital Santa Lucinda.
Tinha 78 anos mas a idade não lhe pesava nas costas quando saía para vender seis amendoins caseiros.
Deixou os filhos: Aparecida, Pedro, Benedito, Sebastião, Lucia, Nelson, José, Durvalina, Maria Antonia e mais 30 netos.
Seu sepultamento será hoje às 16 hs., saindo o féretro da OFEBAS.
“Vendeu muito hoje Compadre...”[75]
Compadre, o vendedor de amendoim, o homem trabalhador até o último dia de vida, o homem de Tietê que escolheu Sorocaba para viver. E morou na Vila Leão, reduto de famílias negras de Sorocaba. Compadre, o homem que foi admirado em sua simplicidade e que por isso traduziu da melhor forma as palavras da Bíblia: os humildes serão exaltados![76]
Palavras-chaves: Tipo popular, Vendedor de Amendoim, Tietê, Vila Leão, Vila Carvalho.
Cassiano Moraes – Cantor, compositor, ator. Nascido em 20 de março de 1955, em Salvador, Bahia. Aos oito anos de idade chegou a Sorocaba. Logo começou a se destacar no cenário musical sorocabano, participando de Festivais nas décadas de 1970 e 80 e cantando e tocando em diversos lugares. O seu estilo musical, marcado por ritmos com bastante suingue e batidas de samba, fizeram com que se destacasse como verdadeiro representante da MPB produzida em Sorocaba.
Em 1995 viveu no teatro o papel de João de Camargo na peça “O Solitário da Água Vermelha”, escrito por Fernando Antonio Lomardo e Sônia Castro, destacando-se como ator.
Cassiano Moraes era figura presente, também, nos carnavais de rua de Sorocaba. Realizou diversas apresentações como cantor, dos quais se destacam os shows “Noites Felizes” (1996), “É ouro, meu rei” (1998) e “AMARéLEI” (2011).
Seu trabalho mais famoso em CD foi “É ouro, meu rei”. Em entrevista ao jorncal Cruzeiro do Sul, em outubro de 2011, Cassiano disse que esse disco foi a sua “Conceição”, referindo-se a música que consagrou Cauby Peixoto.
Em 28 de outubro de 2011, retornou aos palcos, depois de ficar cerca de dez anos afastado, com o Show “AMARéLEI”, no Teatro do Sesi de Sorocaba. O show tinha no repertório ritmos que iam do reggae, samba e suingue.
Na época, em entrevista concedida ao jornalista José Antonio Rosa, Cassiano declarou que esse trabalho era uma vertente mais light.
Em junho de 2012 participou da Rio+20, a Conferência da ONU sobre o desenvolvimento sustentável. Apesar de lutar contra problemas no coração, Cassiano Moraes seguiu em plena atividade, tendo diversos projetos como o de um programa na TV Votorantim em que entrevistaria cantores da região.
Cassiano Ribeiro de Moraes faleceu no dia 19 de agosto de 2012. Deixou a esposa Olímpia Godinho e dois filhos, Raul e Roque.[77]
Palavras Chaves – MPB, Música, Rio+20, João de Camargo, CD, Bahia
Capa do livro "Nossa Gente Negra"


CARLOS CARVALHO CAVALHEIRO
Sorocaba/2011
Agradecimentos
Ademir Barros dos Santos
Ana Maria de Souza Mendes
Aparecido Garuti (Cido Garoto)
Aparecido Modesto de Oliveira
Adilene Ferreira Carvalho Cavalheiro
Edmir Messias de Moraes
José Carlos Malzoni
Míriam Rangel
Marisa Isabel Ribeiro
Rosângela Cecília da Silva Alves
Lidiane Cabral da Silva (Gabinete de Leitura Sorocabano)
Vinícius Cavalcante de Cerqueira (Gabinete de Leitura Sorocabano)
Funcionários do Cemitério da Saudade
Funcionários do Cemitério da Consolação
Teófilo Negrão
João Carlos Cruz dos Santos
José de Campos Lima
Márcio Brown (Márcio Roberto dos Santos)
BIBLIOGRAFIA
ALEIXO, Benedito. Celebridades I – Populares, Artistas e Famosos: Poesias e Relatos. Londrina: Artgraf, 2006.
ALMEIDA, Aluísio de. Entre a História e as estórias. In: Revista do Arquivo Municipal, vol. CLXXVIII, São Paulo: Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura de São Paulo: 1969.
CAMPOS, Carlos de., FRIOLI, Adolfo. João de Camargo – O nascimento de uma religião de Sorocaba. São Paulo: SENAC, 1999.
CAPUTTI SOBRINHO, Vicente. Minha terra, minha gente. Sorocaba: FUA, 1995.
CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. Scenas da Escravidão – Breve ensaio sobre a escravidão negra em Sorocaba. Sorocaba: Crearte, 2006.
. A História do Preto Pio e a fuga de escravos de Capivari, Porto Feliz e Sorocaba. Sorocaba: Edição do Autor, 2007.
. Folclore em Sorocaba. Sorocaba: PMS, 1999.
. Vadios e Imorais – Preconceito e Discriminação em Sorocaba e Médio Tietê. Sorocaba: Crearte, 2010.
DIAS, Maurício Sérgio. Minha rua, nossa História. Sorocaba: LINC, 2002.
GUEDES, Alcir. Entre fatos e boatos. Sorocaba: Julio Cesar Gonçalves, 2007.
MANTOVANI, Neide Baddini. Sorocaba Diacrônica. Sorocaba: Academia Sorocabana de Letras / PMS / FUA, 1992.
SANTOS, José Carlos dos. Os 500 anos do negro no Brasil. Inédito. Acervo do Nucab, Uniso, Sorocaba.
[1] Hoje, final da Avenida Ipanema, próximo a estrada para Iperó.
[2] Atual Boulevard Dr. Braguinha.
[3] Ypanema, 01 maio 1875, p. 02.
[4] Gazeta Commercial, 01 maio 1875, p. 01.
[5] Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volumes 36 – 37, 1939.
[6] CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. A História do Preto Pio e a fuga de escravos de Capivari, Porto Feliz e Sorocaba. Sorocaba: Edição do Autor, 2007.
[7] CAMPOS, Carlos de. FRIOLI, Adolfo. João de Camargo, o Nascimento de uma religião de Sorocaba. São Paulo: SENAC, 1999, p. 99.
[8] Dialeto falado no Quilombo do Cafundó, em Salto de Pirapora, região de Sorocaba.
[9] O Comércio, 10 out 1942, pp. 01 e 06.
[10] Cruzeiro do Sul, 23 nov 1936, p. 01.
[11] CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. Vadios e Imorais – Preconceito e discriminação em Sorocaba e Médio Tietê. Sorocaba: Crearte, 2010, p. 122.
[12] Cruzeiro do Sul, 04 out 2008, p. A 4.
[13] ALEIXO, Op. Cit., 2006, p. 62.
[14] Cruzeiro do Sul, 04 set 2011, p. A 9.
[15] Bom Dia, 08 out 2010. Matéria assinada por Fernanda Ikedo.
[16] Cruzeiro do Sul, 18 jun 1999, p. B 1.
[17] Cruzeiro do Sul, 17 fev 1993, Suplemento Carnaval 93, pp. 10 – 11.
[18] Cruzeiro do Sul, 24 ago 1986, p. 14.
[19] MARCIANO, Leide Débora. Biografia de Thereza Henriqueta Marciano. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <carlosccavalheiro@yahoo.com.br> em 06 maio 2012.
[20] ALEIXO, Benedito. Celebridades I – Populares, Artistas e Famosos: Poesias e Relatos. Londrina: Artgraf, 2006, p. 115.
[21] Cruzeiro do Sul, 03 maio 1987, p. 18.
[22] O 3 de Março, 08 jun 1958, p. 12.
[23] A Folha de Sorocaba, 19 jan 1949, p. 01.
[24] Cruzeiro do Sul, 20 jan 1949, p. 04.
[25] Numa publicação do jornal Cruzeiro do Sul há a informação de que o nascimento de Luiz Pequeno se deu em 12 de outubro. Porém, a data acima é a que consta em outras documentações e, ainda, em sua lápide no cemitério da Saudade. Ver: Cruzeiro do Sul, 17 out 1936, p. 04 – A Sociedade.
[26] Cruzeiro do Sul, 29 abr 1935, p. 04.
[27] Provavelmente, Florisvaldo Roque, o conhecido Vadeco.
[28] Cruzeiro do Sul, 08 abr 1972, p. 10.
[29] Cruzeiro do Sul, 11 jan 1956, p. 04.
[30] Diário de Sorocaba, 02 set 1993, p. 12. Deve ter sido equívoco. Provavelmente, trata-se do cordão Esporte Clube Brasil, o qual representava, aparentemente, a comunidade negra ligada ao Clube “28 de Setembro”.
[31] Cruzeiro do Sul, 07 jan 1956, p. 03. Coluna: Carnaval, assinada por Almeida & Moraes.
[32] Cruzeiro do Sul, 10 fev 1956, p. 04.
[33] Cruzeiro do Sul, 14 fev 1980, p. 16.
[34] Cruzeiro do Sul, 07 fev 1993 – Suplemento Carnaval 93, pp. 10 – 11.
[35] Cruzeiro do Sul, 02 set 1993, p. 12.
[36] Cruzeiro do Sul, 14 fev 1980, p. 16.
[37] Cruzeiro do Sul, 27 fev 1990, p. 01.
[38] Diário de Sorocaba, 02 set 1993, p. 12.
[39] Idem.
[41] Município de Sorocaba, 18 maio 2007, p. 08.
[42] Cruzeiro do Sul, 13 jul 1993, p. 20.
[43] Cruzeiro do Sul, 05 jan 2007, p. A 4.
[44] Por exemplo, no jornal O Operário, de 26 fev 1911, p. 03.
[45] Pesquisa realizada por José Carlos Malzoni. A data de nascimento de Salerno das Neves também se baseia nos achados desse pesquisador.
[46] Conforme anotação feita pelo pesquisador Edmir Messias de Moraes: jornal Cidade de Sorocaba, 02 mar 1911. Ver também: O Operário, 26 fev 1911, pp. 02 e 03.
[47] CAVALHEIRO, Op.cit., 2011.
[48] O jornal Cruzeiro do Sul de 26 de abril de 1933, página 01, noticiou sobre a posse do novo conselho da Frente Negra Brasileira de Sorocaba, para os anos de 1933 – 1934, informando que “o relatório foi lido pelo presidente da primeira directoria sr. Salerno das Neves”. Na posse desse novo conselho, Salerno das Neves foi empossado como orador oficial.
[49] Cruzeiro do Sul, 29 abr 1935, p. 04.
[50] Cruzeiro do Sul, 16 set 1903; 09 maio 1908; 12 maio 1910; Cidade de Sorocaba, 29 abr 1909; 26 set 1909 e 13 jan 1910. Pesquisa de Edmir Messias de Moraes.
[51] Cruzeiro do Sul, 13 fev 1980, p. 16.
[52] Escola de samba ensaia para o carnaval no Jd. São Marcos. Disponível em: http://www.jornalbairro emfoco.com.br/central/materias_central_18.html Acessado em 20 abr 2012.
[53] Cruzeiro do Sul, 24 ago 1986, p. 05.
[54] Cruzeiro do Sul, 13 fev 1980, p. 16.
[55] Diário de Sorocaba, 26 ago 1986, p. 04.
[56] Cruzeiro do Sul, 24 ago 1986, p. 05.
[57] Cruzeiro do Sul, 16 mar 1972, p. 07.
[58] Diário de Sorocaba, 24 ago 1986, p. 01.
[59] ALEIXO, Op. Cit., 2006, p. 141.
[60] Cruzeiro do Sul, 24 ago 1986, p. 32.
[61] A maior parte das informações sobre Ondina Seabra foram passadas pela pesquisadora professora Ana Maria de Souza Mendes, por mensagem eletrônica enviada em 24 de abril de 2012.
[62] Cruzeiro do Sul, 15 maio 1934, p. 01.
[63] Em depoimento concedido em 1999, Josias Alves dizia ter nascido em 1941.
[64] José de Campos Lima, primo de Josias Alves, informou por telefone que o mesmo faleceu em 12 de outubro de 2003. O jornal Cruzeiro do Sul, assim como o registro no Cemitério da Consolação, verificado por Aparecido Modesto de Oliveira, dá a data de 13 e não 12. Os filhos de Chiu, segundo José Lima, são Alexandre Alves, Leonilde, Andrelino, Andréia e Alessandro.
[65] Cruzeiro do Sul, 31 jul 1934, p. 04.
[66] Cruzeiro do Sul, 29 ago 1936, p. 04.
[67] Cruzeiro do Sul, 12 set 1936, p. 04.
[68] ALEIXO, Op. Cit., 2006, p. 127.
[69] Segundo Aluísio de Almeida em artigo publicado na Folha Popular em 12 jun 1955. Segundo a Wikipedia, trata-se de Bonifácio José Batista, “primeiro e único Barão de Monte Alegre”, filho de Antônio Dias Batista e de Maria do Nascimento Teixeira de Azevedo (http://pt.wikipedia.org/wiki/Bonif%C3%A1cio_Jos%C3%A9_Batista Acesso em 23 set 2012). Há informação de que o Barão tenha recebido esse título em 20 de novembro de 1886. Fica a dúvida: as terras de Sorocaba, que darão origem à Vila Barão, pertenciam a Bonifácio José Batista ou ao seu filho Manoel Bonifácio José Batista, conforme afirmou Aluísio de Almeida? é possível que o filho usasse o título do pai? Ou que as pessoas, como por alcunha, o chamassem de Barão mesmo não sendo?
[70] Mensagem eletrônica [e-mail] datada de 14 set 2012.
[71] Não se conseguiu localizar a data exata de seu falecimento. Consta que até 1999 estivesse vivo. Depois dessa data, não foi mais visto. O fotógrafo Teófilo Negrão informou, em junho de 2012, que Roque Marcolino faleceu no Hospital “Teixeira Lima”, em Sorocaba. Teófilo chegou a fotografar o conhecido vendedor de amendoim.
[72] ALEIXO, Op. Cit., 2006, p. 87.
[73] Diário de Sorocaba, 12 abr 1977, p. 01.
[74] Diário de Sorocaba, 17 abr 1977, p. 14.
[75] Cruzeiro do Sul, 12 abr 1977, p. 05.
[76] Lc. 1.52.
[77] Cruzeiro do Sul, 20 ago 2012, p. A8.

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